quarta-feira, novembro 15, 2006

Meninas do gás...

Há uns dias escrevi sobre uma passagem numa via verde, em que aparecia uma mensagem do tipo "obrigado, boa viagem", no ecrã onde surge a indicação do valor pago. E isto a um carro em que o valor era 0, como se tivesse passado sem a caixa da via verde.

Na altura ironizei, imaginando que mais um pouco e a via verde convidava os que entravam no Porto a visitar um bar de strip, por exemplo.

Agora vem a Galp com uma campanha em que dizer que quem mudar para a nova botija de gás em versão Light ("Pluma", dizem eles), se habilita a que a nova botija seja entregue por uma "menina do gás".

Menina do gás?

Quê, se eu desistir de ter gás canalizado em casa, vem a checa do anúncio da TV dar-me com a bilha?

Bem, não deve ser a checa, essa já deve pedir muita massa pra dar a bilha aos clientes.

Serão outras, então. E será que chegam a casa, e ao respondermos ao toque da campaínha, dizem "sou a menina que lhe vai dar a bilha"? Ou então "sou a menina que vem aquecer os seus duches"? É que se atende a mulher do dono da casa, a situação pode ser complicada. Ou não...

E depois? Aparece-nos uma modelo com uma bilha de gás, e faz a instalação? Será que eu confiava uma instalação de uma botija de gás a uma pessoa que, tradicionalmente, tem mais beleza do que miolos? (para não falar na destreza em trabalhos de pichelaria, que sempre foi uma falha no currículo de uma modelo que se preze) Não me parece...

E será que a miúda leva guarda-costas, para o caso do Quim Naifas se entusiasmar quando ela se baixar para ajeitar a bilha? É que estou mesmo a ver o português típico a pensar "eia, quando ela chegar, ofereço-lhe logo um copo de licor Beirão, para ela ver a classe do je... e depois, quando ela se baixar para colocar a bilha no sítio, pergunto-lhe se não quer ajuda com os tubos... e se disser que sim, zás! E quando acabar o servicinho (uns 25 segundos depois), saco de um Marlboro para ela ver a classe do Je..." Típico...

sábado, novembro 04, 2006

Vem aí o referendo...

Vem aí mais um referendo sobre o aborto. Mais um.

Só que o problema começa logo aí. O referendo não é sobre "o aborto". É sobre a possibilidade de uma mulher poder fazer uma decisão, que só por si nunca é fácil. É a liberdade de escolher fazer algo com o seu próprio corpo.

Claro que estamos a falar também de uma vida em potencial. Mas se não houver condições para dar a essa criança uma vida minimamente estável e que garanta um processo de crescimento normal, vale a pena? Há quem diga "vale sempre a pena". Que o digam as vítimas de assaltos, violações, assassinatos e afins cometidos por pessoas que "tiveram uma infancia difícil".

Já se viu que sou a favor. Quer dizer, sou contra um aborto, mas sou perfeitamente a favor da liberdade de escolha, porque uma criança indesejada pode estragar várias vidas, não só a da mãe, como a da própria criança, a do pai, dos avós, de todos em redor.

Mas tudo isto é treta. O "Não" vai ganhar de certeza. Isto por várias razões:
- A pergunta é demasiado extensa e confusa, e claramente com um discurso feito e dirigido a políticos. Um cidadão comum, com instrução mais baixa, não percebe patavina do que lá diz, e vai pelo que disse o padre no sermão da eucaristia dominical.
- Somos um país muito católico, e realmente os padres ainda têm muito poder, e podem influenciar a opinião pública com o que dizem nas missas. E a igreja, por razões óbvias, é contra a despenalização da interrupção da gravidez.
- Estamos a falar da despenalização da interrupção da gravidez. Porque ela vai continuar a existir, porque sempre existiu e sempre existirá, mas em condições degradantes e perigosas.
- Os partidos políticos da oposição, como sempre, são incapazes de de juntar ao governo no que quer que seja, por isso levam os seus apoiantes a fazer campanha pelo Não...

E é bom lembrar que estamos a falar da despenalização do aborto até às 10 semanas de gestação. Ou seja, interromper a gravidez aos 2 meses e meio. Muitas mulheres têm abortos espontâneos por essa altura, será que vão ser investigadas para ver se não foi propositado? Algumas nem se apercebem que estão grávidas nessa altura!

Valha-me Deus, nos restantes países europeus, os prazos vão desde as 12 semanas até às 25! E não foram necessários referendos, basta o governo ter essa intenção e promulgar os projectos-lei.

E depois vêm perguntar "e se a mãe do Einstein tivesse feito um aborto? E a mãe do Leonardo Da Vinci? E a mãe do Guttemberg? E a mãe do Mário Soares?"

Epa, com essa última, podia eu bem...