sexta-feira, julho 25, 2008

Auguinha das Pedras


A Unicer, companhia que gere, entre muitas outras bebidas, a Água das Pedras, está a lançar uma nova campanha de marketing desta água gaseificada.

Até aí, tudo bem, mas nota-se que deve ter entrado para o dep. de Marketing da Unicer algum miúdo novo, cheio de ideias idiotas para conquistar o mundo.

Isto porque a campanha centra-se na sugestão de que o Zé Povinho deve pedir Água das Pedras para acompanhamento da refeição, em vez de vinho ou um sumo.

Se isto não é uma ideia idiota, não sei o que será!

Desde que sou pequeno, que a Água das Pedras pede-se quando a tripa anda às voltas e é preciso um descongestionante. Ou pior, quando a comida não caiu nada bem.

Chegar a um restaurante, sentar na melhor mesa, colocar o guardanapo no colinho, atacar o pãozinho torradinho e besuntá-lo com os molhos de couvert (porque hoje em dia começa a ser raro ver a bela da manteiga!), olhar para o empregado e dizer confiantemente "quero a posta à mirandesa" não pode ser seguido de "ah, e uma águinha das pedras"!!!

Se eu fosse o empregado de restaurante, a reacção inicial seria responder com um "ouça, eu sei que tivémos azar com o peixe com salmonelas de há 2 semanas, e aquela lagosta barrada com maionese fora de prazo da semana passada, mas daí a pedir já a águinha das pedras, antes mesmo de olhar para o prato, é covardia!!!"

Sinceramente... isto é o mesmo que pedir de entrada um cafézinho.

Além disso... aquilo é água... quem pede um copo de água para acompanhar uma carnucha vermelhusca? Ou uma francesinha? O ridículo da coisa: "É uma francesinha especial da casa, com batata, e uma aguinha, daquela com bolhinhas..."

Chiça! E eu gosto de Água das Pedras, o que faria se não gostasse!!!

quarta-feira, julho 23, 2008

O Fugitivo - real life story

Uma das vantagens de estar em férias é poder ficar acordado até tarde. Não necessariamente a fazer nada de interessante, mas só o facto de não ter que ir trabalhar no dia seguinte é um peso que sai de cima, quando estamos a ver aquele programa de tv que é interessante e queremos ver como acaba.

Ontem fiquei até à 1h30 a ver um programa sobre a vida (ou a parte final dela) do Dr. Samuel Shepard.

Esse nome não deve dizer nada ao people, mas toda a gente conhece a história d’”O Fugitivo”, seja a série de televisão dos anos 60, ou o filme com o Harrison Ford.

A série foi inspirada no caso real do Dr. Shepard, com a diferença de este não ter fugido para encontrar o verdadeiro assassino da sua mulher. E de esse assassino não ser maneta, mas apenas ter uma cabeleira amarfanhada.

O caso real passou-se nos anos 50. Depois de ter encontrado o tal cabeludo em casa e de ter lutado com ele, encontrou a esposa assassinada, tendo todos os indícios apontado para o marido, que sempre clamou inocência.

Pelos indícios serem tão fortes, a população (e principalmente a imprensa) esperavam um julgamento e uma condenação rápida. E fizeram força para isso. Ao fim de um ano (o que para os cânones do panorama judicial português não é rápido, é um piscar de olhos), o homem foi condenado à prisão perpétua, escapando por pouco ao veredicto de “homicídio em 1º grau”, o que o levaria à cadeira eléctrica.

O seu advogado tentou inúmeros recursos, que nunca foram aceites.

Ao fim de 10 anos de prisão, uma socialite milionária alemã, tipo Lili Caneças da altura (mas com dinheiro a sério), interessou-se pelo caso e foi à américa conhecer o dr. Shepard. Acabou por financiar uma nova investigação, que levantou dúvidas suficientes para que um juiz apreciasse um novo recurso, e decidisse pela anulação do 1º julgamento.

O homem estava lançado, em liberdade, e com uma loira platinada interessada nele, com quem acabou por casar, alguns dias depois de ter saído em liberdade.

Isso, em termos de visibilidade social, se podia ser uma história bonita, não o foi totalmente, porque a rapariga tinha uma irmã que se tinha casado uns anos antes, com um tal de Joseph Goebbels, um dos principais ministros de Hitler, que por acaso até tinha sido o padrinho de casamento...

O homem continuava a dizer-se inocente, e um novo julgamento conseguiu provar que teria havido uma 3ª pessoa em casa do casal, através de algumas gotas de sangue.

Mas..

Numa autobiografia publicada anos depois, o 1º capítulo começava com a pergunta “O Dr. Shepard fê-lo?”, ao que o bom médico, ao assinar um autógrafo para um amigo, escreveu “Sim” mesmo ao lado...

Durante a estadia na prisão, envolveu-se com drogas, hábito que manteve depois de sair, o que provocou o divórcio ao fim de 4 anos, tendo a mulher dito publicamente que se sentia com medo dos acessos de fúria do homem.

A decadência do bom médico chegou ao ponto de se ter iniciado no Wrestling, com o apropriado (?) nome de “Killer Shepard”.

Morreu aos 46 anos, engasgado no próprio vómito, no chão da cozinha.

O filho de tudo fez para provar a sua inocência na sociedade, tendo chegado a um presidiário que confessou a muita gente que tinha morto a mulher do médico, mas nunca o fez de forma oficial, tendo acabado por morrer na prisão, onde estava pela morte de uma mulher que vivia na mesma zona onde morava o Dr. Shepard. Ah, e chegou mesmo a trabalhar para ele como limpador de janelas...


Uma das minhas frases favoritas, é de uma peça de Shakespeare, e retrata bem um caso destes: “There are more things in heaven and earth (...), than those dreamt of in your imagination”. (Basicamente: a realidade é bem mais estranha do que a ficção...)

segunda-feira, julho 14, 2008

Tales from the Train

No combóio, é vulgar as pessoas falarem dos seus problemas pessoais em voz alta. Principalmente aqueles que são passageiros frequentes, acabam por sentir uma descontracção natural, e falam do que lhes vem à mioleira.

Isto implica vir na viagem a ouvir falar do Tóne que se largou ontem à noite enquanto a Rosa Peixeira lavava a loiça, ou ver a miúda de 70 kg e 1,60m gabar-se à amiga de como tem 4 ou 5 mancebos atrás dela, e que está indecisa entre o que a pode ajudar a passar de ano com os copianços ou o que lhe proporciona os finais de tarde mais excitantes, naquela zona de arvoredo atrás do pavilhão de educação física.

Todos os dias há um grupo de homens que trabalham ali na zona de São Frutuoso, há ali alguma indústria pesada (incluindo a Siderurgia).

Desse grupo, a maioria já vem sentado na 1ª carruagem, quando entro no combóio, mas há um que entra no mesmo apeadeiro que eu.

Um destes dias, quando esse se senta, dos colegas habituais só estava um, totalmente calvo, que ia com cara de poucos amigos. O meu companheiro de apeadeiro faz a pergunta da praxe: “Entom, tudo benhe?”.

Ao que o outro, em vez da resposta habitual, do tipo “sinhe, aguentei-me este fim de semana e só bebi 35 bejecas”, o homem sai-se com um “mais ou menos... a minha mulher pôs-me as malas à porta de casa...”

É triste... um homem trabalha para por o pão na mesa, e sai-lhe isto na rifa.

Ele continua dizendo que suspeita que ela lhe pôs os cornos com fulaninho de tal, e que estaria pronto para lhe limpar o sebo.

(Nota para os mais eruditos: “limpar o sebo” geralmente implica uma carga de porradinha velha, ou mesmo de acabar com a raça dele)

O colega lá lhe tenta acalmar, depois da interjeição típica “F***-Se!”, e sai-se com um discurso muito apaziguador: “não faça isso, que dá cabo da vida, vai preso e estraga todo o resto da vida”. E claro, tem que dar o seu contributo pessoal “olhe, eu estou separado há 4 anos, e não me tenho dado mal”.

Pouco depois saem, porque entre a paragem onde entro e a de São Frutuoso, não são mais de 5 minutos. Fico sem saber como terá desenvolvido a história.

Uma coisa é certa, no dia seguinte lá estava o homem novemente (o corno).Ou seja, não terá “chegado a roupa ao pêlo” do encornador. Ou se o fez, terá saído com o TIR* à porta, até porque está na moda...


* Termo de Identidade e Residência.