quarta-feira, agosto 26, 2009

Nomes Feios

"Leucemia Mieloblástica Aguda".

É um nome feio, assustador, petrificante. Numa pesquisa rápida pela internet, surgem-nos frases como "é a forma de leucemia mais mortal", o que não ajuda.

Segundo os médicos, ainda é rara em crianças pequenas, sendo mais habitual em adultos e, particularmente, em idosos. Eu sabia que a pekenota era especial, mas não a este ponto...

Por falar em nomes feios, o tal pseudo-pediatra leva o nome de Dr. Pedro Araujo. Se o encontrar, tenho aqui uma papeira para lhe dar, para que ele a meta num sítio que eu cá sei...

Bom, mas do mal, o menos. Segundo os médicos do IPO, nas crianças esta até será uma das formas de leucemia de mais fácil tratamento, e de menor tempo de recuperação. Claro que isto é na condição de que tudo corra bem e o tratamento seja bem recebido. Claro que o "menor tempo de recuperação" é muito relativo, falando num periodo de 6 a 9 meses. Mas a esperança de que tudo vai correr bem, e de que, apesar do rim ser filho único, o frágil corpito dela vai aguentar bem as sessões de quimio e os malditos efeitos secundários que ainda nem sabemos ao certo quais vão ser (pois divergem de pessoa para pessoa). Sempre foi uma miuda muito bem disposta, isso ajuda.

E ainda dizem que "cada um tem o que merece"... Não acredito. O meu pai não mereceu aquilo que lhe aconteceu, a pekenota não merece isto, nem nós (os que ficamos) merecemos passar por tudo isto em tão pouco tempo.

No caso do meu fantástico progenitor, ainda acho que houve um erro. O Joe Black terá recebido a indicação errada quanto ao endereço da pessoa a levar. Não se pode confiar nos correios, ou então a secretária do ceifeiro já precisa de ir à Optivisão, com o desconto de idade, ainda lhe pagam para levar umas lentes com as diopetrias correctas*...


PS: Branquinha, foi muito bom saber que conseguiste ultrapassar este maldito problema, e a tua experiência pode ser muito valiosa para quem tem que aguentar isto agora, havemos de nos por em contacto...


* - Antes que receba uma reclamação da Optivisão, eu sei que o desconto apenas incide sobre o preço da armação!!!

domingo, agosto 23, 2009

Pouca paciência para a negligência

Não gosto de hospitais. Nunca gostei. Ambiente triste, velho, decadente.

Aliás, hoje em dia tenho a sensação que é mais fácil sairmos de um hospital pior do que quando entramos.

Esta opinião deve-se à crescente descrença na classe médica. Parece-me cada vez mais difícil encontrar bons médicos. A maioria que vejo preocupa-se em procurar a solução mais fácil, para que a consulta seja o mais rápido possível, e atender o próximo, para assim rentabilizar melhor o dia (ou seja, ganhar mais).

Estarei a ser exagerado?

A minha priminha mais nova anda com problemas já há vários meses. Dói-lhe a garganta, tem os gânglios inchados, ao qual o pediatra indicou que se trataria de papeira, algo que hoje em dia já vai sendo raro. Não fez caso aos apelos da mãe de que a miúda estava magra e com olheiras pouco habituais. Após os sintomas terem de facto melhorado após tratamento com antibióticos, regressaram passado algum tempo.

"Ah, é uma 2ª papeira".

Decidiu-se pedir opinião a outro pediatra, que pediu para se fazerem análises.

Hoje, a minha priminha linda de apenas 4 anos, foi internada no IPO, com suspeita forte de se tratar de uma leucemia.

A esperança reside no facto de ainda estar numa fase relativamente precoce, e as probabilidades de tratamento com sucesso serem boas. Mas não são de 100%, e só o nome "Leucemia" já é suficiente para fazer tremer as pernas. E na realidade só saberemos ao certo após mais alguns exames, a realizar durante a semana.

"Ah, mas nem sempre é fácil diagnosticar este tipo de coisas", dirão alguns.

E se acrescentar a informação de que apenas agora, ao realizar um TAC, se percebeu que a piratinha só tem 1 rim??? Ao fim de 4 anos, só agora reparam nesse "pequeno" pormenor que pode complicar a eficácia dos tratamentos?

Não é o 1º nem o 2º caso que vejo de médicos que procuram a solução mais fácil, é "chapa-5". Claro que qualquer reclamação seria inglória, é uma classe que se protege imenso (é como aquela outra classe que se protege mutuamente... os homens!).

Não é a melhor altura para isto acontecer, chego a pensar se alguém com inveja de ver uma família tão unida e amiga nos tenha lançado um mau-olhado. Não acredito em rezas, mas hoje pedi ao meu pai para, do lado dele, tentar fazer o que seja possível para ajudar a sua sobrinha. E sei que ele vai tentar fazer o que puder.

PS: A descrença é com os médicos, mas não só. Os polícias vão pelo mesmo caminho. Mas isso fica para outro texto...

sexta-feira, agosto 21, 2009

Uma crise para me tirar da crise...

Enquanto as coisas vão sendo um pouco menos difíceis a cada dia que passa (porque nunca será fácil ficar sem uma das pessoas que tornavam este mundo um lugar melhor), lá vão surgindo algumas coisas com que me entreter.

Hoje, dei-me ao sacrifício de ver a entrevista à Manuela Ferreira Leite.

Eu sou perfeitamente apartidário, mas se esta senhora ganha as eleições, parece-me que estamos bem tramados. Afinal, foi esta que disse que "Em Portugal, as reformas não funcionam", e que a única maneira de se fazer alguma coisa seria suspender a democracia por 6 meses...

A mulher disse tanta treta, eu diria mesmo tanta trampa que até uma mosca lá foi ver o que se passava, deve-lhe ter cheirado a...

Irrita-me ver os políticos portugueses dizer que a culpa da crise é do governo. E que este governo não fez nada para a prevenir. Era só o que faltava.

Estive há umas semanas em Madrid, onde conceituados professores de economia e finanças referiram, por mais que uma vez, que estamos bem melhor preparados para aguentar a crise do que a própria Espanha. É pena é que tenham que ser os estrangeiros a dizê-lo, e que o português médio nem se aperceba.

Se as empresas multinacionais fogem para países onde o salário mínimo é de 100€ ou menos, o que vai fazer o estado??? Bom, segundo os partidos da oposição, deve aumentar ainda mais o salário mínimo, isso é que nos vai tornar competitivos...

Seria verdade se este fosse um país de trabalho especializado e qualificado. O que não é.

Por isso há que investir para que se mude o paradigma. Para que Portugal possa passar a ser visto como uma oportunidade de negócio, e não como um país onde se bebe bom vinho.

Penso que este governo está a tentar fazer isso. Se o faz bem ou mal, não sei. Mas...
...acho que nunca vi tantos turistas no Porto como este ano.
...não me lembro de termos tantas indústrias nacionais de renome mundial nas áreas tecnológicas (Ydreams, Crital Software, etc)
...não me lembro de ver investimentos tão grandes como o PlanIT Valley em Paredes;
...não me lembro de ter tão bons acessos a quase todo o país, enquanto toda a gente reclama que as auto-estradas estão vazias (mas não vejo essas pessoas a ir pelas estradas nacionais como forma de protesto!);

Sim, claro que este governo tem os seus problemas, e idiotices, e não são tão poucas. E claro que o aumento do PIB se deveu a uma quebra menor nas exportações do que nas importações, e não necessariamente a uma evolução da economia. Mas o facto é que não fomos tão afectados como outros países, não tivémos tantos bancos a ir à banca-rota, temos um défice inferior ao de países como a Alemanha.

Mas provavelmente, o povo vai seguir a tendência de votar na oposição porque "este governo meteu-nos na crise...". Enfim...

segunda-feira, agosto 17, 2009

O pior dia

Hoje fui ao centro de saúde. Teoricamente deveria regressar ao trabalho, mas não me sinto em condições de o fazer. Tanto pela questão psicológica, como pelos afazeres burocráticos que ainda subsistem. Vai daí, deram-me uma baixa de 8 dias.

Durante a consulta, a médica receitou-me um ansiolítico ligeiro. Perguntou qual era a altura em que me sentia mais fragilizado, se ao dormir, ou durante o dia.

Pergunta difícil... Confesso que só dormi mal no 1º dia, não é meu hábito ter noites mal dormidas. Pouco dormidas, isso sim, mas não mal.

Eu diria que o momento mais difícil é mesmo quando acordo, e naqueles 2 ou 3 segundos iniciais reparo que tudo isto é verdade, que não foi um sonho mau.

Mas por acaso, o momento mais difícil até agora ocorreu hoje. Ao ir a minha casa, dar de comer à Chiquita, aproveitei para ligar o pc. Ao entrar automaticamente o messenger, lá surgem as tradicionais mensagens enviadas automaticamente, de publicidade a milagres de emagrecimento, algum vírus que anda por aí. Mas no meio dessas mensagens, estava lá uma dele, do meu pai. E não era vírus.

Era uma mensagem que me tinha enviado, em resposta a uma outra que eu tinha enviado na 6ª-Feira, quando me liguei à net no hotel em Marbella. Dizia-me algo do género "hello, não tinha visto que tinhas ligado. só reparei agora, já vai tarde!!!".

Pois já, pai, já vai algo tarde. Um dia e meio depois deixavas-nos. Agora só te posso responder daqui a uns 40 e tal anos, mas vai saber tão bem quando o puder fazer... Bem me podem dizer que andas por aqui, e até sei que é verdade, mas dói tanto... Fechar aquela janela do messenger e desligar o pc demorou uma eternidade.

Resumindo, hoje foi o pior dia, depois do velório.

quarta-feira, agosto 12, 2009

E de repente...

...tenho que crescer.

Os meus singelos 34 anitos e 190cm de altura enganam bem. Na realidade sou uma criança, um filho único muito mimado pelos pais. Um deles deixou de estar presente fisicamente, mas nunca deixará de estar ao meu lado. Sei disso, sinto-o cá dentro. E felizmente tenho uma família pequena, mas muito próxima e unida, e todos ajudam.

Mas este episódio leva a que, num repente, seja obrigado a crescer. Há que tratar das burocracias associadas a um falecimento, ainda para mais repentino. Há que procurar por papeladas que possam ajudar a transferir contas, seguros, cancelar cartões, o que fazer ao carro, etc. E numa família tão pequena, tenho que assumir alguns dos papéis que o meu fantástico pai fazia. Não será fácil, ainda me dói fundo quando penso nele. Mas sei que a cada dia a dor será um pouco menor.

Enfim, se alguém que já tenha passado por isto tiver algum conselho para tratar das papeladas, agradeço.

Mas na verdadeira mente MBA, não deixo de pensar que poderá haver aqui uma ideia de negócio mal explorada: uma empresa que se associe às agências funerárias, no sentido de uniformizar processos de actualização burocrática, fiscal e económica. E civil, há que mudar bilhete de identidade, número de contribuinte... Se há empresas que tratam de juntar dívidas e uniformizar processos, porque não fazê-lo aos que ficam dos que partem???

Resumindo, há que levantar a cabeça, e de preferência com um sorriso, seria isso que o meu pai queria. A vida não pára.

PS: Se eu fosse hindu, estaria lixado, o primeiro animal que interagiu comigo após o falecimento do meu pai (e que poderia ser a sua reincarnação) foi um mosquito, à noite, no quarto. Não durou muito, a sua existência. Ainda bem que sou ateu...

segunda-feira, agosto 10, 2009

Ao meu pai

Era suposto estar em Marbella... era suposto, mas não estou.

A meio da tarde, e porque apenas nessa altura peguei no carro para vir à cidade, do hotel rural onde estava, e onde nem havia rede de telemóvel, recebo a mensagem para ligar para casa. E isto para receber a notícia que nenhum filho alguma vez quer receber. O meu pai não acordou hoje...

Porque escrevo isto no próprio dia? Porque a viagem de 1000 km's que fiz em tempo record para a carripana que tenho deu tempo para pensar. Para desanuviar um pouco, digamos, o que ajudou a ganhar força quando finalmente encontrei a minha mãe. E ela vai precisar de muita. Mas também eu. E escrevo também para libertar alguma da tensão com que estou neste momento, e talvez por aí ganhar alguma forcinha. Na viagem de regresso, apetecia-me desfazer à pancada cada carro que me impedia de vir o mais rápido possível.

Perdi uma das pessoas que mais amo neste mundo. Felizmente ele sabia disso. Perdi um amigo que, com muito poucas palavras, descobria-me a careca toda. Nisso, acho que saio a ele. Mas também com muito poucas palavras me fazia saber que gosta de mim.

Não ficou nada por dizer, mas faltaram algumas coisas. Faltou-lhe brincar com os netos (se algum dia existirem)... faltou o abraço quando receber o diploma do MBA... faltou ir comigo ver o jogo do Penta ao Dragão... Faltou uma vida toda, era muito novo. Faltou tanta coisa...

Hoje fiquei orfão de pai. Mas acima no texto, escrevi "...que mais amo". Não usei o passado propositadamente. Porque ainda o amo, e sempre o amarei. E sei que ele irá continuar a viver aqui ao meu lado, só não fisicamente.

Amo-te, pai. Onde quer que estejas.