quarta-feira, novembro 17, 2010

Emoção em si bemol

Nos últimos tempos, tenho apostado em aproveitar mais a oferta cultural, não apenas da nossa cidade, mas do país.

Nesse sentido, e aproveitando uma oportunidade rara (que aparentemente foi um mal que veio por muito bem), fui ver os U2 a Coimbra. Grande concerto. Muito profissional (demasiado, diria eu), mas muito bom. Mas era tudo muito ensaiado, sem demonstrar grande emoção. Talvez a diferença tenha sido a música que o Bono cantava com o Pavarotti, quando este andava entre nós. O irlandês cantou-a em Coimbra (não está no DVD), e para mim, foi um dos momentos altos da noite.

Mais recentemente, fui ver dois concertos ao Coliseu do Porto. O primeiro foi do Seu Jorge & Almaz. Trata-se de uma colaboração entre o Seu Jorge (famoso tanto pelo CD ao vivo, fantástico, com a Ana Carolina, mas também pela sua participação no Cidade de Deus) e a banda Nação Zumbi, que eu praticamente já não ouvia desde que há uns 10 anos comprei o album Afrociberdelia, também uma colaboração deles com o Chico Science.
Já perto da fase final desse concerto, num encore supostamente improvisado em que surgiu sozinho, após cantar algumas músicas apenas com o seu violão, desata num relato de como saiu das favelas, deixando lá família e amigos, e que muitos deles ainda por lá andam. Disto, passou para alguns comentários sobre a situação de crise financeira que abraça a Europa, indicando que ficava afectado com a situação, ("pô, sou de carne e osso, né?", e remata com um "...e vocês gastaram todos dinheiro para me vir ver cantar", e desata a chorar. E é que não parava. Pousa a viola, e surgem os músicos de apoio, que o abraçam, e assim ficam perto de 1 minuto.

Já na semana passada, voltei ao Coliseu, para ver um dos dois concertos comemorativos dos 30 anos de carreira do Rui Veloso. Muito, muito bom, uma segunda parte fabulosa, lindíssimo dueto com o Pedro Abrunhosa. E chega-se à altura que todos esperavam: o Porto Sentido, música que se tornou claramente no hino não oficial do Norte (mais do que a Pronúncia do Norte, que também cantou em dueto com o Rui Reininho). E heis que no final do primeiro refrão, em que apenas cantava o início, e todo o Coliseu repetia em uníssono, ao chegar ao "...de quem mói o sentimento", larga um "ai, carago", e desata também a chorar, altura em que todo o público se levanta num barulho ensurdecedor, a agradecer ao homem o facto de ser um de nós, apesar de nascido na capital. (*)

Hmm... o próximo concerto a que vou será o dos Moonspell, acústico. Será que o Fernando Ribeiro também irá dar largas à sua capacidade lacrimal? Hmmm... não me cheira...


(*) - O momento da noite está registado em vídeo, não por mim, neste link: http://vimeo.com/16657372