sábado, janeiro 16, 2010

Os infortúnios das Tropas Tugas

Porque raios é que sempre que há uma intervenção militar portuguesa em terras estrangeiras, alguma coisa corre mal? Já me habituei a ouvir falar em acidentes estúpidos. Como os portugueses habitualmente são colocados em missões secundárias ou de apoio, geralmente não se envolvem na linha da frente. Mas mesmo assim é habitual haver feridos ou mortos, mas geralmente porque alguém levou uma granada para a camarata como recordação, ou porque alguém não reparou que guiar com neve no meio dos balcãs não é o mesmo que guiar no IC19 com chuva, e lá se vai um jipe ribanceira abaixo.

Pois agora, no terrível infortúnio que assolou o Haiti, lá vai a ajuda portuguesa, contingente reunido num avião de carga C-130, e ala para as caraíbas. Mas claro, seria de esperar que alguma coisa correria mal. Um motor resolve falhar e toca a trazer o avião para Portugal de novo, e atrasar a saída por alguns dias. Típico. Com jeitinho, quando lá chegarem já só vão ajudar a enterrar os mortos.

Mas houve uma melhor que essa. O reporter da RTP, que chegou lá bem antes de muitas equipas de resgate (lá está, não foi no avião português), apresenta uma reportagem sobre uma equipa de televisão australiana que encontrou uma menina de 16 meses debaixo de escombros, e os seus membros não descansaram enquanto não conseguiram retirar a miuda de debaixo do amontoado de pedra e ferro. Óptimo. Só que o homem apresentou esta história na mesma peça em que relata que quando ia a caminhar na rua, uma mulher o chama para uma zona lateral, e alerta para os escombros de uma escola, onde alegadamente 100 jovens teriam ficado soterrados, sem que ninguém lá tenha ido para ajudar. E o que fez o jornalista da RTP? Não se sabe, acabou por aí. Mas o mais provável é ter dito à senhora "olhe, daqui a pouco passam por aqui uns repórteres australianos, que têm muito jeito para ajudar, eu só estou aqui para falar para a televisão..."

PS: E para quem ler isto, pense duas vezes em fazer donativos em dinheiro (como pediu o Bush). É que para mim, uma das histórias do dia é a noção de que os bancos ficam com 3% de cada donativo, chegando ao final de cada ano com milhões e milhões de euros/dólares/o-que-quiserem provenientes da boa vontade das pessoas...

terça-feira, janeiro 12, 2010

O regresso!

Em finais de Outubro/inícios de Novembro, lembrei-me de, este ano, fazer algo de realmente diferente na passagem de ano. Nem sei muito bem porquê, foi uma daquelas loucuras que nos passam pela cabeça. Talvez fosse para, por um instante, esquecer o que não pode ser esquecido, preparar o imprevisível, sei lá, procurar divertir-me um pouco. Em resumo, deu-me na telha de aproveitar uma sugestão da minha tia, e aproveitar um conhecimento dela para passar uns dias em Nova Yorque.

Antes de mais, não gosto nada de “Nova Yorque”, não “soa” nada bem à vista quando escrito. Venha daí esse New York, lixem-se os anti-anglicismos.

Agora, de New York, disso já gosto. Seguramente deixei algum(s) comentário(s) quando lá fui há 2 anos, mas não tenho grande pachorra para ir ver o que escrevi na altura. Mas é sempre uma experiência fantástica. Isto é, para quem gosta de ambientes cosmopolitas. Aquela terra, nomeadamente Manhattan, é a verdadeira definição de “cosmopolita”. Aliás, podemos atribuir-lhe essa e outras definições, como o autêntico “melting pot”, o “Centro do Mundo”, a Big Apple. Seja o que for que lhe quiserem chamar, seguramente será adequado.

Costuma-se dizer, no regresso, em tom de brincadeira, que regressamos à parvónia. Não é bem assim, este país tem muita coisa igual aos outros, bem mais evoluídos.

Regressei para ver que continua a crise dos que perderam as economias de uma vida no BPP e BPN, enquanto os responsáveis dificilmente serão punidos.

Regressei para ver que a GNR e Protecção Civil continua a congratular-se, no rescaldo das operações de Natal e Ano Novo, com a redução ora do n.º de acidentes, ora do n.º de mortos, ora do n.º de feridos graves, ora do n.º de feridos ligeiros (há sempre um deles que é menor que no ano anterior, ainda que os outros indicadores subam). E claro, a responsabilidade é sempre do excesso de velocidade. Nunca é da incúria dos instrutores das escolas de condução, nunca é dos examinadores oficiais, nunca é da falta de educação cívica, falta de educação na estrada.

Regressei para ver como a pior ministra do governo anterior arranjou um tacho fantástico num organismo público, nomeada pelo primeiro ministro.

E já nem falo do Benfica...

Mas regresso de um país onde os donos dos bancos e seguradoras pedem ajuda ao governo para ir passar férias de luxo. Onde um deputado vincadamente anti-lobby gay se revela como... homossexual, onde há deputados que lançam petições para cobrir as estátuas de peitos descobertos no edifício do senado, e outros que levam prostitutas de luxo em viagens pelo mundo fora, onde o concurso mais visto é um reality-show em que o vencedor é o concorrente que mais peso perde...

Bom, mas New York não é “América”. E sobre New York... deixo para outro post! :)