quinta-feira, março 11, 2010

Alfa Beta Charlie...

Hoje, ao ouvir as notícias na rádio, ouvi um qualquer sargento da GNR a tecer alguns comentários sobre a queda de um viaduto, ocorrida ontem, na auto-estrada A4 (Porto-Vila Real).

Infelizmente, foi confirmado um morto neste acidente, nomeadamente o condutor de um carro que passava na altura em que a construção desabou. Dizia o sargento que “por volta das 2 da manhã foi encontrado um carro nos escombros. Por volta das 4 da manhã foi encontrado um cadáver, que seria o condutor de um carro”. Ainda bem que ele mencionou bem que seria o condutor de um carro, e não necessariamente da viatura que foi encontrada! Mau seria se todos os mortos dentro de carros, principalmente aqueles em que são o único ocupante fossem o seu condutor!

Mas não foi essa vã tentativa de impressionar os ouvintes com aquele discurso supostamente elaborado e cuidado dos GNR’s que me impressionou. O que me impressionou foi quando ele mencionou as alterações ao trânsito, indicando que “os senhores condutores terão que sair (já não sei onde) e seguir pelo itinerário Echo November 215”...

“Echo November 215”???

Mas o que raios aconteceu à boa e velha “Estrada Nacional”??? A que propósito vem este falar das nossas EN’s com o alfabeto militar inglês???

Muitos GNR’s falam desta forma, suponho que durante o curso de formação de oficiais lhes seja incutida uma forma de falar que imponha respeito. Supostamente.

Mas como seria a vida se falassem desta forma, se se referissem a tudo o que é sigla através do alfabeto militar?

“O senhor condutor deve seguir pela Echo November 215 e voltar a entrar na Alfa 4 já perto de Amarante”
“Ah? Obrigado... mas tem certeza? É que aqui na RFM dizem que o melhor é seguir por outra estrada...”
“Como?”
“Desculpe, eu queria dizer que ouvi isto na Romeo Foxtrot Mike...”
“Ah sim, concerteza. Essa indicação está incorrecta, deverá seguir pela Echo November 215”.
“Então e se eu depois quiser apanhar o IP5 para Aveiro, não há nenhum atalho?”
“Apanhar o quê?”
“Oh... desculpe, o India Papa 5...”
“Ah, hmm... ora não se me avizinha possível, terá que proceder como indicado anteriormente”.
“Mas é que assim arrisco-me a não ver o jogo do Porto na RT... hum... na Romeo Tango Papa!”
“O senhor condutor vai-me desculpar, mas da maneira que andam a jogar, não perde nada...”
“Olhe, obrigado, e folgo muito em saber que o senhor agente também é um grande Foxtrot Delta Papa...”


Nota - Alfabeto Militar descrito em http://en.wikipedia.org/wiki/NATO_phonetic_alphabet

terça-feira, março 02, 2010

Estratégia ferroviária

O acto de escolher um lugar no combóio é um exercício de estratégia interessante.

Cada "célula", chamemos-lhe assim, de lugares tem 4 bancos, dois a dois (frente a frente). Eu diria que 95% das pessoas, ao entrar no combóio, procuram encontrar um lugar isolado, virado para o sentido do movimento. Eu, pessoalmente, tento fazê-lo porque tenho alguma facilidade em enjoar, caso vá de costas e tente ler, por exemplo.

Aqui coloca-se o primeiro dilema. Onde sentar? Já não é fácil encontrar células sem ninguém, pelo que aí coloca-se o segundo dilema: quem escolher para companheiro de viagem?

Não querendo parecer discriminatório, é óbvio que todos evitam sentar ao lado do imigrante romeno com poucos hábitos higiénicos (ou poucas possibilidades de os exercer). Mas estranhamente, também pouca gente se senta ao lado da jeitosona sexy. Talvez por receio de enjoar com o previsível perfume rasca, ou quiçá simplesmente por timidez. Por isso há que procurar por uma pessoa com aspecto "normal", seja lá o que isso for. Depois, entra em causa a 2ª variável: a possibilidade da pessoa sair em breve, deixando a célula livre para gozarmos uns minutos de descanso.

Hoje, na impossibilidade de um lugar isolado na direcção de Braga, vi uma senhora sozinha numa célula, que eu sabia que iria sair em Lousado, a paragem seguinte à Trofa. Pronto, não se fala mais nisso, fico já aqui. Mas trocaram-me as voltas. Em S. Romão, na paragem imediatamente anterior à Trofa, entra uma jovem que se senta naquela célula, ao meu lado. Estava-se mesmo a ver. Assim que a senhora sai, ao chegar a Lousado, a jovem apodera-se daquele desejado lugar, e em pouco tempo adormece. Que raiva, que ódio! E não saiu dali o resto da viagem!

Se me podia ter levantado e sentado noutro lado? Podia, mas não seria a mesma coisa... não podia dar o braço a torcer, nestas situações há que agir como se na realidade aquele lugar onde acabamos por ficar sentados fosse o nosso lugar preferido em todo o combóio. Suponho que seja o mesmo tipo de atitude que têm aqueles heróis da estrada, que quando fazem alguma burrada no trânsito, desatam a acelerar como se na realidade fosse tudo planeado...