terça-feira, junho 22, 2010

Aos meus amigos: Obrigado

Na semana passada, fiz 35 anitos.

A meu ver, considero que entrei agora, oficialmente, na meia-idade. Afinal, se depois dos 70 já não só “o” conseguir levantar com Viagra, a vida deixará de fazer muito sentido. Deve ser muito complicadinho para a psique de muitos homens ter que pensar “ok, se daqui a 3 ou 4 horas há a remota hipótese de ter uns minutos de sexo com aquela sexagenária boazona, então tenho que tomar a pastilha azul agora. Se correr mal, lá vou ter que andar à cowboy, com cuidado para não cair para a frente com o peso...”.

Bom, mas isso agora não interessa nada.

Nestas alturas de aniversários, é normal o ser humano envolver-se num processo altamente masoquista e deprimente: a retrospectiva da vida até agora. A velha máxima filosofal do “Quem sou? De onde vim? Para onde vou?”. Não sou daqueles auto-iludidos que com falsas modéstias dizem “eu? Eu não me arrependo de nada, não mudava nada na minha vida”. Nada disso. Se há coisas que são naturais da idade (leia-se: erros naturais da idade da parvalheira), pelos quais toda a gente passa e sem eles não podemos evoluir e crescer, há outros que poderiam ser perfeitamente evitáveis. E tenho algumas situações dessas, há claramente coisas com as quais acho que poderia ter lidado de forma diferente (para melhor, diria mesmo para muito melhor). E claro, há esse evento ao qual cheguei escandalosamente atrasado, e que me poderia ter mudado a vida toda. Até o próprio facto de estar a escrever isto num combóio, às 7h30 da madrugada, tendo como companheiro de viagem um cinquentenário com (aparentemente) alguns problemas em manter o catarro do fumador dentro da goela, além das personagens de sempre, me leva a pensar que mesmo profissionalmente, a coisa poderia ter resultado melhor.

Bom, mas o facto é que, por considerar que a data possui alguma relevância, tentei juntar alguns amigos para uma bela noitada. Não pude juntar todos, pois seria logisticamente impossível, mas pelo menos aqueles que mais me têm acompanhado nos últimos tempos. E foi muito bom. É bom sentir o carinho de quem trabalha connosco, e de quem já nos acompanha há uns anos. Durante o jantar disse a uma pessoa que a maior parte das coisas na vida vâo e vêm, mas os (bons) amigos ficam. É um cliché, mas é bem verdade. Estava a precisar desse reforço positivo, deu-me forças para seguir em frente, depois de um ano muito complicado. E, para já, nem preciso de ouvir falar em Viagra....

Há uns dias, respondia a um comentário de uma amiga, pelo Facebook, sobre a solidão, indicando que apesar de me considerar um solitário, não me vejo como uma pessoa sozinha, a meu ver são conceitos totalmente diferentes. A isso se devem as pessoas que nos rodeiam e enchem a nossa vida com motivos para a encarar com um sorriso.

Isto para dizer que, apesar de alguns arrependimentos, apesar de algumas coisas poderem ter corrido melhor, sinto-me bem. A culpa é vossa: obrigado, amigos!

domingo, junho 06, 2010

O Fax do Crato

Cenário: Escritório do local de trabalho, apenas eu e um colega lá estávamos.
Hora: Meio da tarde, seriam umas 15h.

Somos 3 pessoas a fazer exactamente a mesma coisa, cada um na sua secretária, que estão juntas. É normal, quando toca o telefone, um de nós atender. Questão de solidariedade profissional, ética, o que seja.

Pelas 15h toca o telefone do meu colega. Levanto-me para atender, era um número com um indicativo que eu não reconhecia (245). Atendo, ouço ruídos estranhos, volto a desligar.

Passado 1 minuto, toca de novo. Levanto-me para ir atender, é o mesmo número. Atendo, e ouço o mesmo ruído. Apercebo-me que é um número de fax, e volto a desligar.

Passado mais um pouco, toca novamente. Vou ver, é o mesmo número. Começo a ficar algo irritado, e nesta altura comento com o meu colega a situação. Deixo tocar, e tocar, na esperança que se cansem e reparem que não conseguem estabelecer a ligação. Passado algum tempo, que pareceu interminável, pára o toque.

1 minuto passado, volta novamente a tocar, e o mesmo número... Atendo, e na esperança que seja daqueles telefaxes em que se ouve um pouco quando alguém atende do outro lado, largo um sonoro berro, a indicar que "este não é um n.º de fax, é um telefone fixo!". A seguir a isto, a chamada cai. "Resultou!", penso eu.

Engano meu, logo a seguir toca novamente. Agora digo ao meu colega, em jeito de brincadeira, que atenda, que já sei que é para ele. Ele, coitadito, assim o faz, mas apercebe-se que é sinal de fax e desliga. Logo a seguir toca novamente. Ele volta a atender, mas desta vez deixa o auscultador fora do telefone. "Pelo menos pagam a chamada toda", diz ele. Após algum tempo, volta para confirmar se já desligaram, e volta a pousar o auscultador.

Mais dois minutos e novo toque. Já visivelmente irritado, lembro-me de pesquisar o número que surge no ecrã do telefone no Google. E aparece como sendo do Posto de Turismo do Crato.

Do Crato? Um município alentejano? A que propósito? No mínimo, deve ser engado. Bom, nada melhor do que ligar para lá e alertar para o erro que estão a cometer, penso eu, na minha boa fé.

Ligo para o Posto de Turismo. À pessoa que atende, tento explicar a situação...

"Ah, só um momento." E passa para um colega. Volto a explicar a situação "boa tarde, estou a ligar de uma empresa em Braga, e estamos, há cerca de 20 minutos, a receber o que penso ser uma tentativa de envio de um fax, do vosso número, e queria alertar porque deverá ser um erro no número, já que estão a enviar para um telefone de voz". Penso que mais claro, seria difícil. "Ah, vou passar à técnica superior, só um momento".

...

"Está lá?"

Volto a explicar à Técnica Superior toda a história.

"Estão a enviar para cá um fax???"
"Não... estamos é a receber uma tentativa de envio de fax do vosso número de fax!"
"Mas... nós não temos fax!"
"Mas surge na vossa página da Internet! "Posto de Turismo do Crato"!!!"
"Ah, bom, isso é porque esse número pertence à Câmara Municipal do Crato, na realidade não é nosso. Mas eu dou-lhe o número de lá"

A senhora lá me deu o número, e eu que nem ousasse pedir-lhe para ligar para a conterrânea ela própria, afinal ela é que era a Técnica Superior... (note-se nas iniciais maiúsculas para dar ênfase ao cargo)

Liguei para a C.M. Crato, e passa-se a mesma cena. Passam a chamada duas vezes até chegar a alguém, alegadamente, "responsável".

Digo à senhora a lengalenga que, por esta altura, já estava farto de repetir, ao que, após ter que clarificar de onde ligava (terra), o meu nome, e de que empresa ligava (algo importantíssimo para interferir na decisão de olhar para o gabinete do lado e ver se estavam a enviar um fax!), lá disse "muito bem, vou ver se de facto algum colega está a tentar enviar um fax. E para que número seria, então??"

Tento explicar que devia ser mesmo equívoco, mas para não entrar em discussões sobre o sexo dos anjos, lá lhe indiquei o número correcto do nosso fax (na gerência).

"Muito bem, irei alertar o colega. Muito obrigado pelo seu alerta, iremos tratar do assunto. É para isso que cá estamos". E desligou.

"É para isso que cá estamos???"

Esta última conversa foi em alta-voz, pelo que no final da chamada, foi difícil conter o ataque de riso entre mim próprio e o meu colega....