terça-feira, maio 31, 2011

Pernas para que te quero

Não gosto de correr.

Não gosto, pronto!

Mas forço-me a fazê-lo.

A única coisa que gosto no acto de dar uma corrida é chegar ao fim e ter a consciência de que melhorei (eventualmente) a minha resistência, ao conseguir aguentar mais tempo, ou ir mais longe. De resto, correr é uma tortura.

Ainda por cima, corro mal. Tenho um estilo bastante desengonçado. Faz-me lembrar as minhas débeis tentativas de andar de kart, no qual só se vêm pernas a sair do pequeno aparelho com motor de corta-relva. É que, para ajudar, tenho as coxas razoavelmente cheias (para não dizer gordas), o que leva a que embatam uma na outra a cada passada em passo acelerado. Ao final de uns 15 minutos, tenho o interior das coxas em ferida. O que, obviamente, só ajuda a ter um aspecto ainda mais marciano ao tentar correr, enquanto simultaneamente tento evitar que as minhas próprias coxas se toquem em cada passada.

Mas até para correr, que é um desporto gratuíto, é necessário equipamento. Arranjei umas sapatilhas alegadamente próprias para corrida. Utilizo calções normais que já tinha por aí. Comprei uma série de t-shirts específicas para corrida, que permitem mais respiração da pele. Mas faltava-me um pormenor importante, nomeadamente para quem gosta de correr enquanto é dia. Há uns tempos ia a correr no parque da cidade, que geralmente tem pouca gente ao final da tarde de inverno, mesmo que solarenga. Mas de vez em quando lá nos cruzamos com alguém. Calhou, naquele fatídico momento, cruzar-me com uma miuda, no preciso momento em que os óculos que trazia, alegremente comprados na feira de Custóias a um qualquer cigano, se desfazerem precisamente pela haste central. Ou seja, num instante os óculos transformaram-se em dois monócolos, e voou cada um para seu lado, com o impulso da corrida. Obviamente que fiz aquilo que qualquer homem poderia fazer: ri-me da situação como se já estivesse a contar com aquilo, quase como se fosse tudo planeado.

É apenas mais uma razão para não gostar de correr. Não gosto de me cruzar com imensa gente, de andar a desviar-me das pessoas. Mas pelo menos fico confinado ao Parque da Cidade do Porto, não me meto na marginal da Foz. Isso parece uma fogueira das vaidades, 90% das pessoas que vão correr para essa zona fazem-no para encontrar alguém conhecido, fazem-no porque "é bem". Questão de status social. Para isso, não contem comigo. Senão ainda posso desfazer qualquer outra coisa em frente a alguma socialite, e escuso de sair de casa nos próximos 5 anos...