Eu sou um rapazito que tem alguns problemas em sentar-se em
certos e determinados sítios.
Não por nenhuma questão hemorroidal, mas pela simples razão
de que tenho uma altura um pouco superior à média nacional. Felizmente as
gerações mais novas têm surgido com estaturas cada vez mais elevadas, o que é bom em termos
nacionais, para conseguirmos, gradualmente, ir eliminando aquela imagem que
muitos estrangeiros ainda têm, do português baixinho, atarracado e de bigode. E
infelizmente isto tanto servia para o português como para a portuguesa. Já não
foi mau ver a Lúcia Moniz a entrar no “Love Actually” de buço depilado, apesar
de fazer papel de uma pessoa inferior (empregada doméstica, e no mínimo não
muito esperta). Melhor que essa, estão actualmente a Daniela Ruah e o Diogo Morgado. Embora
esse ainda não resista a manter alguma capilaridade facial.
Adiante.
O certo é que, do alto dos meus 190cm, deparo-me com alguns
problemas em sentar-me em locais apertados. Desde aviões a autocarros, passando
pelos nossos teatros. Os cinemas mais recentes já seguem uma norma
internacional, pelo que aí não tenho problemas, mas se vou a um teatro
nacional, vejo-me à nora para arranjar posição. No Rivoli, quase sinto
necessidade de comprar 2 lugares.
Na semana passada, fui ver a estreia de uma peça, no Sá da
Bandeira. Um teatro, outrora bonito, que está (eu diria desesperadamente) a
precisar de uma renovação. Depois de anos a passar filmes porno (algo que não
me sai da cabeça durante todo o tempo em que estou sentado naqueles lugares da
plateia – mas ainda assim acho que estaria pior se tivesse ido para os
camarotes), nos últimos anos este emblema da cidade do Porto recuperou a veia
teatral, e tem estado consistentemente com peças de teatro, e muitas delas de
qualidade.
Era o caso desta.
Quando me sentei, não estava ninguém do meu lado esquerdo. A
minha mãe, que convidei a ir comigo quando me ofereceram os bilhetes (nas
estreias, é raro haver lugares pagos, geralmente é para convidados, para que
possa funcionar o word-of-mouth), ficou à minha direita. Isto na 2ª fila, no
canto direito.
Pouco tempo antes da peça começar (e já muito depois daquilo
que era a hora marcada para o início - algo tipicamente português), chega um casal jovem (talvez na 2ª metade dos 20's), em que ele se
senta ao meu lado (não podia deixar a namorada sentar-se junto de um tipo
jeitoso: macho que é macho previne isso e senta-se no intervalo). E assim que
se senta, o rapaz fica de pernas abertas. E assim se manteve. O jovem, que não
tinha bigode mas a típica barba de 3 dias que só fica bem aos gays, teria,
seguramente, menos 10 ou 15cm que eu, mas ainda assim não conseguia manter uma
postura... digamos... discreta. Parecia que teria tomates demasiado grandes
para conseguir juntar as pernas, ficando o tempo todo com elas em V. De cada vez que mexia a perna direita, lá
tocava na minha, pedindo desculpa em seguida. Felizmente não foram muitas as
ocasiões, até porque fiz algum esforço para recolher o meu pernil de forma a
evitar o contacto. Em posição relaxada, o tipo não conseguia manter os joelhos
no espaço delimitado pelas costas da cadeira da frente, que, como todos sabemos,
delimita oficiosamente as fronteiras do espaço pelo qual pagamos. Ou não, neste
caso. Se calhar foi isso... como os bilhetes eram oferecidos, ele sentia-se no
direito de se sentar como bem entendesse. Quando estou num local públido,
geralmente preocupo-me com a envolvente, com quem está à minha volta, se estou
a incomodar ou não. Por exemplo: nos concertos sem lugar sentado, é habitual eu
procurar não só um lugar em que tenha boa visibilidade para o palco, como um em
que tenha pouca gente atrás. Depois de eu ficar instalado, pode chegar quem
quiser, porque eu já lá estava, mas não gosto de ir para a frente de alguém,
porque sei que vou tapar visibilidade. Este jovem estava, em bom português, a
cagar-se para quem estivesse ao lado.
Ah, e o coup de grâce
que serve como corolário disto mesmo ocorreu após o intervalo, em que depois de
beber uma água com gás, soltou um pouco sonoro arroto. Justificou-se à namorada
com a garrafa que ainda tinha na mão.
De facto, a imagem do tuga iletrado e de bigode, ainda é
capaz de perdurar mais uns anos.
E, já agora, a peça é boa, tem piada (apesar da 1ª parte ser algo
monótona), e uma interpretação excelente do José Pedro Gomes. Chama-se “Os Reis
da Comédia”, e além dele conta com o Rui Mendes e o Jorge Mourato. Recomendo.