quinta-feira, agosto 25, 2016

Portugal Olímpico

Terminaram há poucos dias os Jogos Olímpicos de 2016. Como sempre que há estes grandes eventos, chegamos agora à altura em que toda a gente reclama de termos ganho poucas medalhas.

Sinceramente, acho que toda a gente devia ser um pouco mais como eu. Eu sou pessimista. E nestas coisas de grandes eventos desportivos, ainda mais. Parto sempre com a ideia de que vamos perder, e por muitos. Ou, no caso dos Olímpicos, que vamos ser eliminados à 1ª oportunidade.

Assim, caso ganhem alguma coisa, ou cheguem a um 6º lugar numa competição que à partida tinha centenas ou mesmo milhares de atletas (se contarmos com as provas de qualificação para os olímpicos), então já será motivo de festa.

Há que recordar que a grande maioria destes atletas são perfeitamente amadores. São pessoas como eu e quem quer que seja que lê isto, mas que saem de casa às 5 da manhã para ir treinar, antes de ir para o trabalho. E que ao final da tarde vão treinar novamente, antes de chegar a casa já de noite. São pessoas que, na grande maioria dos casos, fazem isso sem receber nada em troca. 

Não creio que ninguém tenha o direito de criticar os nossos atletas. Ok, excepto talvez aqueles casos em que alguém foi para os olímpicos sabendo que estava lesionado e que dificilmente poderia competir, e assim roubou o lugar a outro que poderia ter feito bastante melhor.

Sendo alguém que já passou a barreira dos 40, lembro-me de outros tempos, sim.

Lembro-me de tempos em que apenas tínhamos hipóteses de ganhar alguma coisa ou na vela (mau era, com a nossa costa!), ou no atletismo de fundo, que é como quem diz: aquelas provas de atletismo em que só ganha pessoal de países do 3º mundo. Nestes últimos jogos, bem como nos anteriores, as coisas já se inverteram, já tivemos medalhas, ou perto disso, em disciplinas como o triplo salto, e já ficamos longe de bons resultados nas maratonas (e vê-se tanta gente a correr na Foz ao final da tarde...). Às tantas é um sinal dos tempos e da nossa evolução na sociedade mundial, estamos a entrar nos desportos de países mais evoluídos.

Lembro-me desses tempos... da Rosa Mota na maratona em Seul... do Fernando Mamede a desistir dos 10.000m em Los Angeles... do Carlos Lopes a ganhar a maratona nesse ano...  Ok, já não me lembro da medalha de prata do Lopes nos J.O. de Montreal, em 76. Talvez porque tinha 1 ano, e não tinha grande interesse nessas coisas.

Mas lembro-me da nossa medalha de bronze em berlinde, nos jogos de Atlanta, em que o saudoso Zé Faria só foi afastado da grande final quando o atleta do Uzbequistão usou de forma muito duvidosa o seu abafador, naquela altura em que o árbitro se distraiu com a loira peituda nas bancadas (que a meu ver, tinha bastante ar de uzbeque).

E lembro-me da nossa medalha de prata na malha nos jogos de Pequim em 2008, quando o Ti Manel Padeiro conseguiu a passagem à final ao ganhar ao atleta argentino após ter desiquilibrado este último com um ligeiro toque da sua proeminente cavidade abdominal no pé de apoio do atleta das pampas, que fez com que a malha fosse parar ao parque de estacionamento. Consta-se que o árbitro não reparou, apesar do protesto do atleta sul americano, por estar distraído por uma loira pouco peituda mas provocante, nas bancadas. Não, não era uzbeque, mas sim uma brasileira recrutada em Lisboa 2 anos antes, de seu nome Angélica Cristina Ribeiro, que ficou para sempre conhecida na selecção de futebol e pelo Oliveirinha como a menina Paula. O Ti Manel não quis saber e foi à final, apenas perdendo quando no último lançamento, que lhe iria certamente dar a vitória contra o atleta japonês Aikidoi, a malha ficou presa na unhaca que usava para descascar kiwis, o que levou à sua desqualificação. Ainda assim, foi uma prestação meritória, tendo o atleta sido recebido em ombros pela população, no aeroporto de Lisboa, e tendo recebido a mais sentida homenagem através do crescimento das unhacas desenvolvido pelas meninas da ribeira do sado.

Ah, e quem poderia esquecer esse verão de 1988, onde em Seul o atleta espanhol naturalizado português Pepe Lopez Bufarte , atleta da divisão de bilhar do FC Porto, ficou a escassos milímetros de conseguir a medalha de bronze em bilhar de bolso, quando falhou inacreditavelmente o último movimento do direito, que em vez de passar por baixo do esquerdo enquando coçava a micose inferior (que tanto tempo tardou a ser desenvolvida, no estágio em PyongYang), acabou por recolher e assim perder impulso. Ainda hoje muitos nos lembramos do treinador, histericamente aos berros "Oh Lopes Bufa! Bufaaa!", para tentar que o direito voltasse a sair a tempo da manobra, mas sem sucesso, já que o raio do espanhol pensava que o treinador apenas o estava a chamar para ir conhecer a loira que se achava provocante e peituda sentada nas bancadas, mas afinal era só uma jovem Carolina Salgado.

São coisas que só acontecem a quem lá está. Ou não.


segunda-feira, setembro 21, 2015

Há poucos dias, faleceu a minha avó materna. Isto seria, em situações normais, uma notícia estremamente triste, mas neste caso nem o é. Isto porque a minha avó já estava doente com alzheimer há alguns anos, num ponto em que se limitava a respirar, alheia de tudo o que se passava à volta.

Mas isto implica velório. Numas instalações à beira da igreja da Lapa. Estreadas há poucos meses, catitas, limpinhas e com uma decoração de bom gosto, longe do ambiente soturno e morbidamente cinzento das igrejas. Depois de algumas horas, naturalmente, deu-me uma certa fome, ou não fosse já perto das 9 da noite. A família não queria comer nada, mas eu lá me decidi a sair e ir procurar por um lugar onde comer.


Era noite do mini-festival D'Bandada, que acontecia por toda a baixa do Porto, pelo que, naquela zona da Lapa, todos os restaurantes estavam cheios de juventude animada, e eu não estava para ouvir miudos às gargalhadas e barulheira. De modo que continuei o meu caminho. Pensei em ir ao Bufete Fase, que para mim tem as melhores francesinhas da cidade, mas além de já ter comido esta iguaria no dia anterior, em teoria seria também um local cheio de gente. Vai daí, resolvi subir até ao Marquês. Nessa altura, deu-me vontade de comer um frango no churrasco, ou em bom português; um bom pito, com arroz e batata frita, à tuga mesmo.


Chegando ao Marquês, dei uma volta à procura de um resturante que me "chamasse". Alguns fechados, outros com uma arquitetura com "sala de jantar no 1º andar", que obrigava a entrar e subir as escadas, para perceber se tinha lugares. Algo que não me apeteceu fazer, estava numa de entrar num local, sentar-me ao balcão, pedir e vir embora.


Após andar um pouco, lá encontrei um local que aparentava responder a estas premissas. Da rua, via-se o balcão, via-se que tinha lugar, e até que tinha uma TV a transmitir o jogo do Arouca-FCP. "É já aqui", penso eu.


Entro, sento-me no final do balcão, ao lado de uma coluna (mais próximo da TV, ou não fosse o fcp o meu clube). Imediatamente senti-me como num daqueles Westerns-Spaghetti, em que quando entra o forasteiro, pára tudo e ficam todos a olhar para o estrangeiro... Mas enfim, estava ali para comer. O empregado vem ter comigo, e olha para mim de lado, sem nada dizer.


"É para jantar".


O homem faz menção de pegar na lista, mas digo-lhe que não vale a pena, vai ser meio frango, arroz e batata. Isto parece ter revelado ao homem que eu, apesar de "estrangeiro" e demasiadamente bem arranjado para aquele local (vesti-me bem porque, que diabos, era a despedida da minha avó), à partida seria boa gente, porque enquanto se virava para ir buscar o prato e talheres, repetiu "ok, meio franguinho". O diminutivo revela sempre um estado de alma mais relaxado.


Nessa altura, percebi porque me tinha olhado de lado.


Era estrábico. Fortemente.


O restaurante tinha o grelhador ali mesmo, no piso térreo, mas a lavagem do material seria no andar superior. Têm um elevador de pratos, que também serve de intercomunicador, porque quando era necessário pedir pratos de sobremesa, por exemplo, o pedido era feito espetando a cabeça lá dentro, e mandando um valente berro, na esperança que lá em cima o ouvissem. E vice-versa (não havia pratos de sobremesa limpos).


Enquanto esperava pela comida, finalmente olhei em redor, algo que ainda não tinha feito. E reparo que atrás de mim, a ocupar todo o restaurante, há uma mesa em U, com algumas pessoas bem arranjadas, o que me levou a pensar que ou seria um aniversário, ou até uma festa de casamento. Ou talvez um baptizado. O que percebi é que tinha vindo parar a um local que, para quem fugiu da D'Bandada, talvez não tivesse sido a melhor opção. Até porque pouco tempo depois, há uma senhora que se levanta, e dirige-se para o outro lado da coluna ao meu lado, onde estava um órgão, do qual não tinha dado conta até então.


E começa a tocar.


E tocava o quê?


A música que mais seria de esperar num "evento" desta magnitude. De tal forma, que tive que registar em vídeo a cena...




"E saí eu de um velório para isto???"...






quinta-feira, julho 16, 2015

Não vou pôr isto no Facebook

Não vou postar isto no Facebook.

Hoje em dia põe-se tudo e mais alguma coisa no Facebook. Então nesta altura de verão, o pessoal acha que toda a gente, principalmente os que estão a trabalhar, tem que saber que estão na maior, numa qualquer praia solarenga, que tanto pode ser do Caribe, do Brasil, ou de Lavadores.

Há uns tempos, alguém dizia que fotos desse tipo não são selfies, mas sim "braggies", o que vem do termo inglês "to brag", que basicamente quer dizer "gabar-se". Ou seja, o pessoal gaba-se que está de férias, e como não acredito que alguém pense "vou pôr isto no FB, para que todos os meus amigos fiquem felizes por eu estar a curtir", só posso acreditar que o pessoal põe isso para fazer inveja a toda a gente que vê. Logo, fotos de pernas na praia = é uma braggie. Fotos em frente a um monumento, principalmente quando este é no estrangeiro = é uma braggie.

E depois há aquele pessoal que resolve dizer "Bom dia!" ou "Vou dormir, boa noite!" ao mundo, como se isso tivesse algum interesse. Para não falar de outras coisas, tipo...
"Ah e tal, agora estou a fazer ameijoas à Bolhão Pato"
"Estou a ver a Guerra dos Tronos, e não estou a gostar que o Jon Snow tenha morrido"
"Tomem lá uma música de que gosto muito"
"Estou a obrar, e está-me a custar"

Ok, o último talvez tenha sido um pouco exagerado. Mas pouco deve faltar para o pessoal começar a descrever as suas funções escatológicas, seja no Facebook ou no Twitter.

Não sinto essa necessidade. Não tenho qualquer vontade de causar inveja aos outros. Isso já acontece sem que eu faça muito por isso, quando algum amigo indica que está comigo em alguma festa nocturna. E nessa altura, boa parte das minhas amizades casadas (ou apenas comprometidas) tem o tal pensamento do "este gajo é que está bem". 

Mas hoje, estava eu a acabar uma apresentação em Powerpoint, e ao colocar a data na 1ª página "16-07-2015", ocorreu-me como uma chapada na cara: hoje é dia 16 de Julho. 
Isso não teria nada de mais, se não fosse o aniversário do meu progenitor, que deixou este planeta em 2009, e que muita falta me faz.
Com o efeito da chapada, algumas lágrimas atrevidas chegaram ao parapeito da pálpebra, mas uma inspiradela mais profunda fê-las voltar para o conforto de casa. Faz-me falta, catano, e não é pouca.

Não sendo religioso, fica difícil acreditar que "está lá em cima a olhar cá para baixo". Até porque isso deve causar vertigens. Fica difícil acreditar que continua a olhar por mim, algures. Bom, desde que não o faça quando estou na casa de banho, ou em algum momento íntimo, tudo bem. Fica difícil perceber que não está lá, porque tantas vezes me esqueço, tal era a constância da sua presença.

Mas não vou pôr isso no Facebook. Já o fiz, em anos anteriores, mas já me fartei disso. O pai era meu, a dor é minha. E sei que pouca gente lê este blog, principalmente nesta altura, após uma enorme inactividade.

Mas já sinto aqui um vento a querer sair da minha cavidade retal, fechada a 7 chaves pelo meu valioso esfíncter. Olha, se calhar vou ali pôr isso no Face e já volto...

quarta-feira, abril 09, 2014

A problemática de seguir o chefe

Um destes dias, saí da fábrica logo a seguir à minha superior hierárquica. E tal como ela, em vez de ir pela Nacional, decidi-me a ir pela Auto-Estrada. Normalmente vou pela Estrada Nacional, para poupar o 1€ de portagem da SCUT, mas como naquele dia não estava com grande paciência para o trânsito da estrada, fui pela via mais rápida.

Entrando na auto-estrada, deparo-me com um dos mais velhos dilemas que assolam as relações patrão-empregado: a minha chefe conduz de forma mais lenta que eu, por isso devo ou não devo ultrapassá-la?

Convém aqui dizer um pequeno aparte, para explicar que a empresa onde laboro tem muito bom ambiente de trabalho. Toda a gente se entende bem, e isso inclui as relações entre chefias superiores e intermédias. Mas isso não quer dizer que não devemos estar atentos às pequenas situações do dia-a-dia, que por serem mal entendidas podem facilmente levar a situações mais chatas. Uma graça (o chamado bitaite) que temos com um colega de trabalho do mesmo nível, pode não ser necessariamente entendida como tal por um superior, habituado talvez a outro tipo de trato. É a tal da inteligência emocional em pleno: saber lidar com toda a gente não quer dizer lidar com toda a gente da mesma forma.

Voltemos à estrada. Passam-me as várias hipóteses pelo pensamento:

- Se não ultrapasso, arrisco-me a demorar quase tanto pela auto-estrada como se fosse pela Nacional. Não é que ela conduza muito devagar, mas também não é uma Michelle Mouton.

- Se ultrapasso, posso ser visto como um “acelera”, um desmiolado sem amor à vida, que se comporta na estrada como se fosse o rei de Sealand(*), com as óbvias implicações profissionais. É que muitas vezes mudamos de comportamento quando saímos porta fora da empresa, para assumir uma postura mais relaxada, mais “caseira”, ou até mais louca, até ao momento em que nos aparece um colega ou chefe pela frente, e ficamos sem saber como nos comportar.

Ok, decido-me a ultrapassar. 

E agora? Ultrapasso sozinho? Ou aguardo para que passem outros carros, para ir junto e assim, talvez, passar despercebido?

Decidi-me pela 2ª opção. Aguardei uns segundos para que passassem outras viaturas, inseri-me na fila e lá fui à minha vida. Assim, pelo menos, não pareço um acelera isolado, sou mais um na manada. 

Mas isso fez-me pensar noutras situações similares: e se encontrasse um chefe numa casa de banho pública? E se andasse aos encontrões num concerto de música, para tentar chegar à frente, e de repente reparasse que a pessoa a quem estava a passar por cima era um superior hierárquico? E se a pessoa que também estivesse a olhar para o último Kinder da prateleira do supermercado fosse o chefe??? Bom, aí podia bem ficar com ele, não vou daqui à esquina para comer doces... E ainda bem que a Ryanair já tem lugares marcados, senão era chato ir a correr com o chefe, pela pista do aeroporto, para arranjar os melhores lugares. E aí, ultrapassava ou deixava-me ficar?...


(*) Para quem não sabe, o “principado de Sealand” é uma zona auto-proclamada como tal, ao largo da costa britânica (Sudeste). O senhor Paddy Bates ocupou, em 1967, uma pequena instalação naval inglesa, abandonada após a 2ª guerra, e proclamou a independência da zona. Como, na prática, esta ficava fora da zona de jurisdição da justiça britânica, ninguém o chateou muito. Tem uma população de 50 habitantes, hino, moeda própria, e até uma equipa de futebol. Só não sobra ninguém para assistir aos jogos. Mas após a morte do “Rei Bates”, o filho não lhe seguiu as pisadas, e o território está actualmente à venda.

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Adeus Fernando, até depois!

Eu sei, eu sei, não tenho colocado aqui nada, há bastante tempo. Mas a inspiração não tem sido muita, hoje em dia o mais habitual é dizer alguma palhaçada durante o dia, mas não me lembrar do que era, quando me sento no pc, à noite...

Mas enfim, esta semana deu que falar o "desabafo" do João Tordo, pelo seu pai, o famoso cantor Fernando Tordo, ter emigrado para o Brasil, por apenas ter uma reforma de 200 e tal euros.

Para quem quiser, aqui fica o link para o seu blog.

Já me acusaram de ser do contra, mas...

Li o texto do blog, e, talvez em desacordo com todo o restante da população portuguesa, não consigo concordar a 100% com aquilo. 
Note-se: É óbvio que sei que a coisa não está fácil, que há muita gente a passar dificuldades, sem dinheiro para comprar medicamentos, crianças a sofrer com os dois pais desempregados, etc. 

Mas lamento: o caso do Fernando Tordo parece-me ser perfeitamente paradigmático do estado do nosso país. Um país em que, durante muito tempo, se gastou mais do que o se devia, e agora não tem dinheiro para se aguentar, parece-me semelhante a um artista com 50 anos de carreira, que, aparentemente, não soube poupar o suficiente e agora tem uma reforma miserável. Custa-me muito a crer que o grande Fernando Tordo ganhasse tão pouco nos incontáveis espectáculos, nos programas de televisão e de rádio, para agora apenas ter 250€ de reforma. Mas desejo-lhe toda a sorte lá pelo Brasil. E espero que não tenha problemas de segurança.

quarta-feira, outubro 16, 2013

Ode à Francesinha

Hoje é o Dia Mundial da Alimentação.

Naturalmente, a maior parte das pessoas querem lá saber. Mas é obrigação dos departamentos de Recursos Humanos das empresas realizarem qualquer tipo de acção alusivo ao tema. No caso, temos hoje uma ementa especial na cantina (alegadamente mais saudável que o habitual), e o dep. de RH enviou um e-mail com alguns pontos para reflexão, sobre o que comemos. Diria mesmo que falta pouco para nos dizerem "tu és o que comes".

Mas como eu sou daquelas criaturas que preferem o bem que as coisas sabem ao mal que fazem, resolvi ripostar.

E na sequência de uma conversa do dia anterior, lembrei-me de dizer que "eu gosto é de francesinhas!". Mas claro, não o poderia dizer de forma tão bruta, tão primitiva. Vai daí, deixei um poema para a posteridade...

Ode à Francesinha

Oh, querida Francesinha,
Que teu molho me queime o esófago
Que a salsicha não seja pequenina,
E o picante não me leve ao sarcófago!

Oh, querida sandocha do Porto,
O teu queijo conforta-me a alma...
Há quem goste de a fazer com porco,
Mas aí eu digo: “vamos lá com calma!”

Oh, grande bomba calórica,
Que tantos seguidores tem,
O molho deixa qualquer mulher eufórica,
Excepto, claro, a minha mãe.

Oh, francesinha desejada,
Que fazes tão mal ao corpo,
Incompreensível seres tão amada,
Só podia acontecer no Porto.

Oh, francesinha deliciosa,
Que na dieta dá grande lanho,
E depois de comer, já fico sem prosa,
Acabo mas é a noite na casa de banho!!!

sexta-feira, agosto 16, 2013

Finalmente chegou o dia!

E pronto, depois de uma crise política que causou mais uma onda de desconfiança contra o nosso país, e da qual o único vencedor foi um tal de Paulo Portas, que desde então ninguéjm sabe onde pára, nada melhor do que o grande acontecimento do dia de hoje: o regresso do campeonato nacional de futebol, época 2013/2014.

Isto é uma grande notícia para o país, e para o governo! Senão, vejamos:

- Num instante, deixa-se de se falar em Swaps, Scuts, Ministros com passados corruptos, etc, para passarmos a falar do penalty que não foi, ou daquele fora de jogo do Braga contra o Paços de Ferreira, que os portistas dizem que não foi, enquanto os benfiquistas dizem que foi;

- Voltam as agremiações populares, volta o bom velho hábito português de nos juntarmos todos à mesa... do café, enquanto gritamos impropérios à televisão, junto a grandes amigos que conhecemos ali no momento, e em estabelecimentos cujo pagamento da SportTV se reflecte no preço do cimbalino; Claro está que, agora com a BenficaTV, esse néctar negro verá o preço agravado. Mas o Zé perdoa, porque o que interessa é ver a bola e, afinal, além do café ainda vem mais meia dúzia de minis, e um pratinho de tremoços;

- Os juízes dos tribunais também agradecem, pois podem voltar a julgar casos fáceis, como o defesa do Arouca que agrede o avançado do Estoril com um piparote na orelha, à entrada dos balneários (porque já é fora do terreno de jogo e, como tal, entra no campo civil), ou a mãe do árbitro que agrediu o Tony do bar do clube de 3ª divisão à 2ª vez que este chamou um nome feio ao seu filhote amblíope, em vez de terem que se preocupar com ucranianos bêbados a atirar frigoríficos pela via pública acima ou deputadas municipais bêbadas a conduzir. Assim, eles próprios já podem beber um pouco mais;

- É um acontecimento tão importante, que o nosso próprio Primeiro-Ministro vai dar o seu show de optimismo moderadó-negativista  na festa do Pontal, no mesmo dia de arranque do campeonato. Espera ele que haja mais gente a ver o Paços de Ferreira-Braga do que no calçadão de Quarteira.;

- A companheira do Pinto da Costa poderá descansar um pouco, por ele regressar ao acompanhamento da equipa, depois de dias e dias a ouvir o seu amor a declamar poesia, porque se presume que terá conquistado o coração azul e branco do presidente ao exclamar a já famosa frase “ai amô, quando você fala assim, você mi excita... seu safado!”;

- O LF Vieira, ilustre e eloquente presidente do benfica também poderá matar as saudades dos bitaites diários, das trocas de insultos mais ou menos disfarçados, ao regressar ao convívio com os restantes presidentes de clubes, principalmente o rival aqui do norte. Mas agora vai entrar de peito feito, ou o seu canal não se prepare para transmitir as derrotas e/ou as vitórias sofridas do SLB no estádio da Luz. Não é qualquer um que se dá ao luxo de transmitir os seus próprios adeptos a mostrar lenços brancos ao treinador e direcção.

E ainda temos o estreante, o “rookie”, o tal do Bruno de Carvalho, que entrou a 100 à hora, contra tudo e contra todos, mas que depois das primeiras derrotas da equipa de futebol, já deve estar a consultar o professor Bambo para saber se aguenta até ao Natal...

Aaaahhhh, que saudades tinha eu, do campeonato de futebol!!!


segunda-feira, maio 06, 2013

Teatralidades


Eu sou um rapazito que tem alguns problemas em sentar-se em certos e determinados sítios.

Não por nenhuma questão hemorroidal, mas pela simples razão de que tenho uma altura um pouco superior à média nacional. Felizmente as gerações mais novas têm surgido com estaturas cada vez mais elevadas, o que é bom em termos nacionais, para conseguirmos, gradualmente, ir eliminando aquela imagem que muitos estrangeiros ainda têm, do português baixinho, atarracado e de bigode. E infelizmente isto tanto servia para o português como para a portuguesa. Já não foi mau ver a Lúcia Moniz a entrar no “Love Actually” de buço depilado, apesar de fazer papel de uma pessoa inferior (empregada doméstica, e no mínimo não muito esperta). Melhor que essa, estão actualmente a Daniela Ruah e o Diogo Morgado. Embora esse ainda não resista a manter alguma capilaridade facial.

Adiante.

O certo é que, do alto dos meus 190cm, deparo-me com alguns problemas em sentar-me em locais apertados. Desde aviões a autocarros, passando pelos nossos teatros. Os cinemas mais recentes já seguem uma norma internacional, pelo que aí não tenho problemas, mas se vou a um teatro nacional, vejo-me à nora para arranjar posição. No Rivoli, quase sinto necessidade de comprar 2 lugares.

Na semana passada, fui ver a estreia de uma peça, no Sá da Bandeira. Um teatro, outrora bonito, que está (eu diria desesperadamente) a precisar de uma renovação. Depois de anos a passar filmes porno (algo que não me sai da cabeça durante todo o tempo em que estou sentado naqueles lugares da plateia – mas ainda assim acho que estaria pior se tivesse ido para os camarotes), nos últimos anos este emblema da cidade do Porto recuperou a veia teatral, e tem estado consistentemente com peças de teatro, e muitas delas de qualidade. 

Era o caso desta.

Quando me sentei, não estava ninguém do meu lado esquerdo. A minha mãe, que convidei a ir comigo quando me ofereceram os bilhetes (nas estreias, é raro haver lugares pagos, geralmente é para convidados, para que possa funcionar o word-of-mouth), ficou à minha direita. Isto na 2ª fila, no canto direito.

Pouco tempo antes da peça começar (e já muito depois daquilo que era a hora marcada para o início - algo tipicamente português), chega um casal jovem (talvez na 2ª metade dos 20's), em que ele se senta ao meu lado (não podia deixar a namorada sentar-se junto de um tipo jeitoso: macho que é macho previne isso e senta-se no intervalo). E assim que se senta, o rapaz fica de pernas abertas. E assim se manteve. O jovem, que não tinha bigode mas a típica barba de 3 dias que só fica bem aos gays, teria, seguramente, menos 10 ou 15cm que eu, mas ainda assim não conseguia manter uma postura... digamos... discreta. Parecia que teria tomates demasiado grandes para conseguir juntar as pernas, ficando o tempo todo com elas em V. De cada vez que mexia a perna direita, lá tocava na minha, pedindo desculpa em seguida. Felizmente não foram muitas as ocasiões, até porque fiz algum esforço para recolher o meu pernil de forma a evitar o contacto. Em posição relaxada, o tipo não conseguia manter os joelhos no espaço delimitado pelas costas da cadeira da frente, que, como todos sabemos, delimita oficiosamente as fronteiras do espaço pelo qual pagamos. Ou não, neste caso. Se calhar foi isso... como os bilhetes eram oferecidos, ele sentia-se no direito de se sentar como bem entendesse. Quando estou num local públido, geralmente preocupo-me com a envolvente, com quem está à minha volta, se estou a incomodar ou não. Por exemplo: nos concertos sem lugar sentado, é habitual eu procurar não só um lugar em que tenha boa visibilidade para o palco, como um em que tenha pouca gente atrás. Depois de eu ficar instalado, pode chegar quem quiser, porque eu já lá estava, mas não gosto de ir para a frente de alguém, porque sei que vou tapar visibilidade. Este jovem estava, em bom português, a cagar-se para quem estivesse ao lado.

Ah, e o coup de grâce que serve como corolário disto mesmo ocorreu após o intervalo, em que depois de beber uma água com gás, soltou um pouco sonoro arroto. Justificou-se à namorada com a garrafa que ainda tinha na mão.

De facto, a imagem do tuga iletrado e de bigode, ainda é capaz de perdurar mais uns anos.

E, já agora, a peça é boa, tem piada (apesar da 1ª parte ser algo monótona), e uma interpretação excelente do José Pedro Gomes. Chama-se “Os Reis da Comédia”, e além dele conta com o Rui Mendes e o Jorge Mourato. Recomendo.