segunda-feira, setembro 21, 2015

Há poucos dias, faleceu a minha avó materna. Isto seria, em situações normais, uma notícia estremamente triste, mas neste caso nem o é. Isto porque a minha avó já estava doente com alzheimer há alguns anos, num ponto em que se limitava a respirar, alheia de tudo o que se passava à volta.

Mas isto implica velório. Numas instalações à beira da igreja da Lapa. Estreadas há poucos meses, catitas, limpinhas e com uma decoração de bom gosto, longe do ambiente soturno e morbidamente cinzento das igrejas. Depois de algumas horas, naturalmente, deu-me uma certa fome, ou não fosse já perto das 9 da noite. A família não queria comer nada, mas eu lá me decidi a sair e ir procurar por um lugar onde comer.


Era noite do mini-festival D'Bandada, que acontecia por toda a baixa do Porto, pelo que, naquela zona da Lapa, todos os restaurantes estavam cheios de juventude animada, e eu não estava para ouvir miudos às gargalhadas e barulheira. De modo que continuei o meu caminho. Pensei em ir ao Bufete Fase, que para mim tem as melhores francesinhas da cidade, mas além de já ter comido esta iguaria no dia anterior, em teoria seria também um local cheio de gente. Vai daí, resolvi subir até ao Marquês. Nessa altura, deu-me vontade de comer um frango no churrasco, ou em bom português; um bom pito, com arroz e batata frita, à tuga mesmo.


Chegando ao Marquês, dei uma volta à procura de um resturante que me "chamasse". Alguns fechados, outros com uma arquitetura com "sala de jantar no 1º andar", que obrigava a entrar e subir as escadas, para perceber se tinha lugares. Algo que não me apeteceu fazer, estava numa de entrar num local, sentar-me ao balcão, pedir e vir embora.


Após andar um pouco, lá encontrei um local que aparentava responder a estas premissas. Da rua, via-se o balcão, via-se que tinha lugar, e até que tinha uma TV a transmitir o jogo do Arouca-FCP. "É já aqui", penso eu.


Entro, sento-me no final do balcão, ao lado de uma coluna (mais próximo da TV, ou não fosse o fcp o meu clube). Imediatamente senti-me como num daqueles Westerns-Spaghetti, em que quando entra o forasteiro, pára tudo e ficam todos a olhar para o estrangeiro... Mas enfim, estava ali para comer. O empregado vem ter comigo, e olha para mim de lado, sem nada dizer.


"É para jantar".


O homem faz menção de pegar na lista, mas digo-lhe que não vale a pena, vai ser meio frango, arroz e batata. Isto parece ter revelado ao homem que eu, apesar de "estrangeiro" e demasiadamente bem arranjado para aquele local (vesti-me bem porque, que diabos, era a despedida da minha avó), à partida seria boa gente, porque enquanto se virava para ir buscar o prato e talheres, repetiu "ok, meio franguinho". O diminutivo revela sempre um estado de alma mais relaxado.


Nessa altura, percebi porque me tinha olhado de lado.


Era estrábico. Fortemente.


O restaurante tinha o grelhador ali mesmo, no piso térreo, mas a lavagem do material seria no andar superior. Têm um elevador de pratos, que também serve de intercomunicador, porque quando era necessário pedir pratos de sobremesa, por exemplo, o pedido era feito espetando a cabeça lá dentro, e mandando um valente berro, na esperança que lá em cima o ouvissem. E vice-versa (não havia pratos de sobremesa limpos).


Enquanto esperava pela comida, finalmente olhei em redor, algo que ainda não tinha feito. E reparo que atrás de mim, a ocupar todo o restaurante, há uma mesa em U, com algumas pessoas bem arranjadas, o que me levou a pensar que ou seria um aniversário, ou até uma festa de casamento. Ou talvez um baptizado. O que percebi é que tinha vindo parar a um local que, para quem fugiu da D'Bandada, talvez não tivesse sido a melhor opção. Até porque pouco tempo depois, há uma senhora que se levanta, e dirige-se para o outro lado da coluna ao meu lado, onde estava um órgão, do qual não tinha dado conta até então.


E começa a tocar.


E tocava o quê?


A música que mais seria de esperar num "evento" desta magnitude. De tal forma, que tive que registar em vídeo a cena...




"E saí eu de um velório para isto???"...






quinta-feira, julho 16, 2015

Não vou pôr isto no Facebook

Não vou postar isto no Facebook.

Hoje em dia põe-se tudo e mais alguma coisa no Facebook. Então nesta altura de verão, o pessoal acha que toda a gente, principalmente os que estão a trabalhar, tem que saber que estão na maior, numa qualquer praia solarenga, que tanto pode ser do Caribe, do Brasil, ou de Lavadores.

Há uns tempos, alguém dizia que fotos desse tipo não são selfies, mas sim "braggies", o que vem do termo inglês "to brag", que basicamente quer dizer "gabar-se". Ou seja, o pessoal gaba-se que está de férias, e como não acredito que alguém pense "vou pôr isto no FB, para que todos os meus amigos fiquem felizes por eu estar a curtir", só posso acreditar que o pessoal põe isso para fazer inveja a toda a gente que vê. Logo, fotos de pernas na praia = é uma braggie. Fotos em frente a um monumento, principalmente quando este é no estrangeiro = é uma braggie.

E depois há aquele pessoal que resolve dizer "Bom dia!" ou "Vou dormir, boa noite!" ao mundo, como se isso tivesse algum interesse. Para não falar de outras coisas, tipo...
"Ah e tal, agora estou a fazer ameijoas à Bolhão Pato"
"Estou a ver a Guerra dos Tronos, e não estou a gostar que o Jon Snow tenha morrido"
"Tomem lá uma música de que gosto muito"
"Estou a obrar, e está-me a custar"

Ok, o último talvez tenha sido um pouco exagerado. Mas pouco deve faltar para o pessoal começar a descrever as suas funções escatológicas, seja no Facebook ou no Twitter.

Não sinto essa necessidade. Não tenho qualquer vontade de causar inveja aos outros. Isso já acontece sem que eu faça muito por isso, quando algum amigo indica que está comigo em alguma festa nocturna. E nessa altura, boa parte das minhas amizades casadas (ou apenas comprometidas) tem o tal pensamento do "este gajo é que está bem". 

Mas hoje, estava eu a acabar uma apresentação em Powerpoint, e ao colocar a data na 1ª página "16-07-2015", ocorreu-me como uma chapada na cara: hoje é dia 16 de Julho. 
Isso não teria nada de mais, se não fosse o aniversário do meu progenitor, que deixou este planeta em 2009, e que muita falta me faz.
Com o efeito da chapada, algumas lágrimas atrevidas chegaram ao parapeito da pálpebra, mas uma inspiradela mais profunda fê-las voltar para o conforto de casa. Faz-me falta, catano, e não é pouca.

Não sendo religioso, fica difícil acreditar que "está lá em cima a olhar cá para baixo". Até porque isso deve causar vertigens. Fica difícil acreditar que continua a olhar por mim, algures. Bom, desde que não o faça quando estou na casa de banho, ou em algum momento íntimo, tudo bem. Fica difícil perceber que não está lá, porque tantas vezes me esqueço, tal era a constância da sua presença.

Mas não vou pôr isso no Facebook. Já o fiz, em anos anteriores, mas já me fartei disso. O pai era meu, a dor é minha. E sei que pouca gente lê este blog, principalmente nesta altura, após uma enorme inactividade.

Mas já sinto aqui um vento a querer sair da minha cavidade retal, fechada a 7 chaves pelo meu valioso esfíncter. Olha, se calhar vou ali pôr isso no Face e já volto...