terça-feira, abril 29, 2008

Desacordo Ortográfico...

Ontem fiquei acordado até às tantas, porque mesmo quando ia a desligar a tv do quarto, mudei para a SIC e estava a dar o CSI Miami. Oras, claro, tive que ficar a ver, óbvio.

O episódio, pelos vistos “em estreia na televisão portuguesa”, era passado no Brasil, com o detective do torcicolo permanente em busca de um sobrinho, que estaria a ser utilizado como correio de droga.

O interessante passou-se já no final do episódio, já depopis de se ter descoberto o paradeiro do mau da fita através da unha do cão do vizinho do primo do presidente da câmara da cidade onde morava o tio-avô do dito cujo... A mãe do rapaz, alegadamente de origens brasileiras (note-se que entre os vilões brasileiros, alguns falavam português e outros espanhol fluente), comenta com o tal coitado do pescoço torto que “em brasileiro há uma palavra para o sentimento de falta daquilo que gostamos, que é Saudadji”.

Oras... “brasileiro”?... Que eu saiba, os nossos irmãos lá das terras de Vera Cruz ainda falam português!!! Certamente que os “camones” não dizem que falam “americano”, e não inglês!

Ah, claro, que tolice a minha, a rapariga disse “Saudadji”, e por isso é que é brasileiro, porque se fosse português tinha que ser “Saudade” (o que, para um falante anglo-saxónico, é bem mais difícil por causa do som fechado no final). Por outro lado, nesse termo, entre brasileiro, angolano ou moçambicano, não sei bem qual será mais aplicável...

Mas isto devem ser reflexos do novo acordo ortográfico, ou não fosse um episódio novinho em folha. Afinal, agora passamos a escrever palavras tão portugas como “ação”, “ator” ou a minha preferida, “perentório” (em vez de peremptório – está no novo dicionário!). Da próxima vez que falar com um amigo que já não veja há algum tempo, já lhe vou dizer que tava com saudadjis dele... E quando vir o meu chefe hoje, vou-lhe dizer, alto e em bom som “Oi Cára! Tava com saudadjis d’ocê”...

domingo, abril 27, 2008

O Expresso do Oriente II

No sábado, último dia da viagem, finalmente tive a oportunidade de fazer algum turismo, em Shanghai.

Shanghai é uma daquelas cidades de que ouvimos falar com algum misticismo desde que somos pequenos, referenciada em inúmeros filmes.

Mas, vendo bem a coisa, a cidade tem pouco que ver. O que custa a acreditar, sendo uma cidade tão grande. Oficialmente tem cerca de 18 milhões de habitantes, mas diz-se que o número real deve ser bem superior.

Relativamente ao que já tinha visto em Suzhou, foi mais do mesmo: prédios enormes, grandes avenidas, mas claro, muito mais rebuliço citadino.

O centro, na margem do rio, é realmente fantástico, uma explosão de luz e cor, é um cenário bonito, ainda que demasiado "moderno", face ao que esperava ver. Não se vêem aquelas casitas e aqueles barcos típicos que se viam nos filmes. Isso já lá vai. Mesmo o cenário onde foi filmado o Missão Impossível 3, que teoricamente era em Shanghai, na realidade é uma aldeia a 40 km. Há excursões para ir ver essa zona, só por causa do filme...

Como ir à China e não comprar cópias é como ir a Roma e não ver o Papa, também fui ao mercado das cópias. Para quem conhece o Centro Comercial Brasília, no Porto, é como se fosse um andar desse centro. Lojas e lojas em corredores mal desenhados e em curva. Lojas grandes, lojas pequenas, todos com os artigos em exposição, todos os donos das lojas à porta a incentivarem-nos a entrar. Isto numa estação de metro, no 1º andar subterrâneo. Mas não gostei.

Não gostei, porque não gosto de regatear. Sou daqueles tipos que não têm jeito para compras. Se sei que naquela loja há qualquer coisa de que gosto, vou lá e compro. E não perco muito tempo a olhar para outras montras. Muitas mulheres dirão que isto é contra-natura, mas conforta-me o facto de saber que é um comportamento tipicamente masculino. Não é que tivesse dúvidas...

Mas ali não, parece Marrocos. Vemos uma peça, seja o que for, e pedem-nos um balúrdio, que indicam numa calculadora com visor grande. Dizemos que não, e passam-nos a calculadora para a mão. Introduzimos um valor ridiculamente baixo. O vendedor reclama que o estamos a roubar, e ao fim de 10 minutos de "ai não pode ser, ai você mata-me, ai os meus filhos", acaba por nos vender pelo preço ridiculo.

Não tenho pachorra. Não fosse o mexicano com quem estava ir munido de uma lista com os preços típicos, nem lá tinha ficado um minuto. Mas isso sempre evitou os tais 10 minutos de regateio.

Quanto à comida, embora, felizmente, não tenha ficado doente, o certo é que a tripa demorou a voltar a habituar-se a só ver a sanita de quando em vez, e não com a regularidade suíça com que vim de lá. Cheguei mesmo a acertar um relógio pela pontualidade da "obra"...

sexta-feira, abril 25, 2008

Bike Trip

Já volto aos comentários sobre a China, mas entretanto, um aparte...

Hoje participei num passeio de bicicleta, organizado pelo Dep. de Recursos Humanos da empresa, que contou com uma participação interessante (incluía também uma caminhada, para quem não estivesse para dar ao pedal).

O percurso não era fácil (subida a uns moinhos de vento - energia - na zona da Cabreira - Gerês), principalmente para quem, como eu, está terrivelmente fora de forma. Ainda assim, bem ou mal, consegui chegar ao fim.

Mas a certa altura do percurso, já na fase descendente, passamos por uma descida que deixou muito boa gente com o coração (e quiçá algo mais...) nas mãos. Bastante íngreme, com muita pedra solta, exigia uma atenção constante e força para segurar no guiador. Há quem diga que se deve tentar compensar os desvios do terreno, dar ao pedal aqui e ali para ganhar tracção, etc e tal. Eu? Limito-me a escolher o lado com menos calhaus e deixo-me ir. Mas provavelmente devo precisar de um conjunto novo de borrachas de travão, de tanto que as usei hoje...

A questão é que, depois da descida, o sentimento é de alguma euforia, pela adrenalina sentida por estar quase a cair uma série de vezes, mas conseguir chegar ao final.

Houve um estadista famoso, penso mesmo que foi o Churchill, que disse que não há nada mais emocionante do que dispararem contra nós e falharem.

Acredito. Afinal, grande parte das experiências radicais hoje em dia, baseiam-se na noção de perigo iminente, ainda que controlado. Se não for controlado, suponho que a sensação de adrenalina seja ainda maior.

É algo que não planeio descobrir nos próximos tempos. Não estou a pensar pedir a algum amigo para me tentar acertar um tiro. Ou uma castanhada, ou uma facada, mas avisando para não se preocupar muito com a pontaria...

Para já, tenho é que me preocupar com o escaldão que apanhei no passeio!!! E com as dores fantásticas no nalguedo!!! Já tenho uma protecção almofadada no selim, mas nem assim. Acho que vou tentar comprar uns calções almofadados, só que quando vejo alguém com aquilo, fico a pensar se é uma cena muito máscula ou muito gay...

quinta-feira, abril 17, 2008

O Expresso do Oriente I

São 3 da manhã em Portugal, na altura em que escrevo isto. Aqui são 10 da matina.

Vim passar uma semana em Suzhou, é uma “terreola” a oeste de Shanghai, o grupo tem aqui uma fábrica que vai produzir um produto idêntico ao que fazemos em Braga, por isso vim acompanhar uma auditoria do cliente.

Digo “terreola” porque só tem 4 milhões de habitantes. Comparado com Shanghai, que já vai em 18 milhões, é mesmo uma aldeia.

Mas isto não é a verdadeira China. Esta cidade é predominantemente industrial, sendo o parque industrial qualquer coisa de fantástico. Avenidas enormes, kilómetros e kilómetros de jardins arranjados ao pormenor, quase todas as árvores (e são aos milhares) iluminadas de várias formas e cores, lagos e cascatas, condomínios fechados luxuosos para os trabalhadores, em que cada prédio tem entre 20 a 30 andares (sempre em grupos de 5 ou mais prédios idênticos), são 70 km2 de parque industrial com estas zonas residenciais pelo meio. Comunismo? Nem vê-lo!

Ontem, como um dos auditores queria, porque queria, comprar um cachecol XPTO, finalmente fomos ao centro da terra (Suzhou). E aí sim, é o que pensam os ocidentais: são lojas chinesas porta-sim, porta-sim!!! Ruas cinzentas e escuras, coisas estranhas a ser vendidas na rua, supostamente comestíveis (há uma coisa que inicialmente me pareceu um tentáculo de polvo, mas depois percebi que era uma espécie de lagarto de cauda comprida...), há chinocas a tentar vender relógios na rua, com catálogos de revistas oficiais a dizer “cópias originais!!”, há pessoal em trajes típicos, há putos em trajes “fashion” ultra-modernos (tipo nave espacial). Comunismo? Nem vê-lo!

Felizmente ainda não me deu a diarreia monumental que esperava com muito pouca ansiedade. Mas confesso que nunca evacuei tanto na minha vida (para usar um termo politicamente correcto), todos os dias tenho uma consulta marcada na sanita! E vá lá que o hotel tem sanitas “ocidentais”, porque já vi em vários sítios sanitas que não passam de buracos no chão. O pessoal agacha-se, pernoca afastada, e cá vai bomba. Depois sai um jacto de água para lavar a floresta negra. Comunismo? Não sei o que tem a ver aqui, mas... nem vê-lo!

Enfim, costumes... vou voltar ao trabalho, que a auditoria ainda não acabou...

quinta-feira, abril 10, 2008

Treino aplicado

Para quem não sabe, os motoristas de âmbulâncias e carros de bombeiros (de intervenção rápida) são habitualmente treinados em condições reais, ou seja, no trânsito da cidade.

Se assim não fosse, seria difícil treinar os miúdos num simulador, ou num parque fechado, e depois lançá-los a altas velocidades pelo meio de engarrafamentos, como tentativa desesperada de salvar vidas.

Acho que é compreensível.

Claro que nós, que vamos calmamente no trânsito, a cantarolar o último êxito do Mikael Carreira (ou talvez não), e reparamos no retrovisor (porque a música em altos berros não deixa ouvir a sirene), que por entre um "Esta foi a vida..." e um "...que escolhiiiii" *, vemos a ambulância e não fazemos ideia se é uma situação real ou não. Obviamente, nunca pensamos nisso e abrimos caminho para que o veículo siga na sua tentativa. Alguns ficamos até com uma sensação estranhamente agradável de que fizemos a nossa parte na tentativa de salvamento de uma vida.

Mas hoje passei por uma que, se não estava em treino, então não sei que caso seria, porque uma ambulância vinha a subir a rua com o farolim ligado (o "tinoní azul"), mas sem sirene sonora.

E parava nos semáforos e passadeiras.

Se fosse alguém lá dentro, devia ir acompanhado pelo padre, que lhe iria a dar a extrema-unção em andamento. Ou talvez fosse alguém com hiper-tensão, e qualquer variação mais brusca desencadiaria um ataque brutal. Ou até, quiçá, alguém que sofresse de anti-civismo grave, e que se visse o condutor a quebrar alguma norma do civismo rodoviário, entraria em convulsões.

Bom, se estava em treino, tudo bem, mas escusava de exagerar...


*PS: Eu sei que aquela letra é do paizinho, o Tony, mas como não sei nenhuma música do filho pródigo cabeludo, foi o que se arranjou...

Mentiroso!!!

O meu passe mensal do combóio terminou a validade no passado dia 04.

Como esta semana não fui de combóio na 2ª e 3ª por ter ido para fora, e como não vou está cá durante toda a próxima semana (uma ida para o extremo oriente), resolvi não comprar já nova mensalidade do passe, e fazê-lo apenas após o regresso da China.

Oras... ontem saí do emprego às 17:45, e seguindo uma prática habitual, apanhei o combóio para Braga, de onde poderia apanhar o "rápido" para o Porto, que demora 40 minutos a fazer o meu trajecto, em vez dos 55 que demora o habitual pastelão.

Na estação, tentei comprar um bilhete na máquina, queria comprar um talão de 10 viagens. A máquina estava Fora de Serviço, estava lá um operador da CP a arranjá-la. Fui ao balcão de venda de bilhetes, disse que queria o passe de 10 viagens, e responderam que tinha mesmo que ser na máquina, e que em 2 minutos estaria a funcionar.

Aguardei mais que isso, eu diria uns 4 ou 5 minutos, e voltei para o combóio, que saía passados mais 4 ou 5 minutos.

Dentro do combóio, quando aparece o revisor, por hábito peço-lhe para me vender um bilhete Ferreiros-Travagem, que é o percurso habitual. O homem fica a olhar para mim, reparo que me enganei, e corrijo: "Ah, pois, é Braga-Travagem, vai dar ao mesmo".

Responde ele em tom de voz alto: "AH NÃO É, NÃO!!! SÃO SÓ 100 VEZES MAIS! SE NÃO COMPROU LÁ BILHETE, AGORA TEM QUE PAGAR MULTA!".

Isto porque quando saímos de estações (e não apeadeiros), é obrigatório comprar bilhete nas máquinas. Nos apeadeiros não há máquinas de venda automática, pelo que se pode comprar ao revisor.

Respondo eu, sem levantar a voz: "pois, só que a máquina de venda não estava a funcionar", ao que o homem sai-se com uma "AH, NÃO ME VENHA COM MENTIRAS, QUE ESSAS JÁ EU CONHEÇO TODAS!"

Diz ele que outras pessoas já lhe mostraram bilhetes comprados em Braga, pelo que eu só podia estar a mentir.

Sou uma pessoa bastante pacífica, mas naquele instante apeteceu levantar-me e ir... hmm... digamos... "pedir-lhe explicações" mais de perto...

Mas contive-me, e continuei a falar de forma normal, e expliquei a situação, e que se ele quisesse poderia ligar para a estação e confirmar.

Ele foi continuar a recolher bilhetes, e avisou que já voltava.

Passado algum tempo, já eu preparado para pagar a multa e a ver formas de processar a CP por difamação, regressa o "pica", e em tom de voz muito, mas mesmo muito baixo, diz "pronto, eu compreendo a sua situação, desta vez passa, mas veja lá, da próxima venha logo falar comigo ao início da viagem".

Paguei o bilhete normal, e deixei-o ir à sua vida. Isto porque apercebi-me de que o homem tinha olhos de quem não tinha dormido. Todos temos dias complicados, talvez fosse o caso dele, e é certo que aquela linha é muito frequentada por putos que nem sempre se comportam, e por uma família de ciganos romenos que dá problemas. Mas o certo é que não era razão para me ter tratado daquela forma.

quarta-feira, abril 02, 2008

O caso do Telemóvel

Suponho que também devia dizer algo sobre a polémica dos telemóveis nas aulas, apesar do assunto já estar a sair de cena. Mas é meu apanágio falar de coisas fora de tempo. :)

No meu tempo, não havia nada disto. Havia papéizinhos a passar de carteira em carteira, havia (já no final de liceu/faculdade) calculadoras com capacidade para conter imensa informação, havia até quem se escolhesse um lugar sempre ao pé de uma janela, para poder tirar o pombo-correio do bolso do casaco, e assim enviar comunicações para o exterior. Ah, a também houve quem fizesse experiências com copos de iogurte atados por um cordel (quem leu a biblioteca do Escoteiro-Mirim em pequenote sabe do que falo).

Ok, talvez algumas destas acções tenham sido ligeiramente exageradas, mas desde sempre que houve copianço, até faz parte da mística da relação aluno-professor, o suspense, a adrenalina de ser ou não apanhado.

Agora... telemóveis? É que ainda por cima a miúda nem estava a utilizar o telemóvel para copiar. Convenhamos que no meu tempo, se alguém levasse um telemóvel para a aula, seria mais arriscado. Na altura era necessário levar o telemóvel, a bateria e o carrinho de mão para levar o conjunto.

Hoje em dia, os ditos-cujos são mais pequeninos, minúsculos, fáceis de esconder. Mas é como tantas outras coisas, há que saber usá-los. E se toda a gente compreende que se desliguem os telemóveis nos cinemas, seria lógico pensar o mesmo nas salas de aula. Pessoalmente, acho que o castigo aplicado à rapariga foi brando. E toda a turma devia ter sido castigada. Deviam ter utilizado isto como exemplo para a restante população estudantil, e não para criar cópias noutras escolas, como se viu nos dias seguintes.

Claro que quando era estudante, também havia professores de quem não gostava. A alguns, apetecia-me mesmo passar-lhes por cima, se nessa altura tivesse carro. Mas nunca faltei ao respeito dentro da sala de aula, faz parte da cidadania.

Ou pelo menos, nunca o fiz de forma a que se apercebessem...