quarta-feira, dezembro 14, 2011

Há coisas que me irritam...

Há coisas que me irritam.

Toda a gente sabe que o país está mal, que tem pormenores pavorosos de má gestão, mas mesmo assim, o português tem uma aptidão especial por dar tiros nos pés.

Esta semana vi alguns exemplos fantásticos disso mesmo.

Um foi o Procurador Geral da República a reclamar que a justiça britânica é muito lenta, porque o Vale e Azevedo tem, ao interpor recursos atrás de recursos, atrasado o seu processo de extradição muito para além do que seria um prazo normal. E entretanto, passeia-se pela capital inglesa.
Pois... alguém é capaz de lembrar este senhor, uma das figuras maiores do estado português, que isso é precisamente o que se passa com um tal de Isaltino Morais? Ou pior: se formos a ver a questão da extradição, estará este senhor esquecido do facto de que o estado português não autorizou a extradição de um condenado à prisão por homicídio de um polícia, só porque, aparentemente, este estava já integrado na sociedade portuguesa??? Bom, suponho que este caso pode até ser bom para a economia nacional, porque assim começamos a receber turismo de assassinos, à espera de passar cá uns anos largos. Afinal, os assassinatos por cá até prescrevem ao fim de 11 anos! Basta manter um low-profile e pode-se ter uma boa vida, assim tipo "não se porte mal, e pode viver em Portugal".

Outra foi o Marinho Pinto a reclamar da auditoria às oficiosas... toda a gente sabe que os advogados, principalmente os estagiários, tentam aproveitar-se do sistema para começar a fazer dinheiro o mais rapidamente possível. É humano! O sistema tem falhas, logo há que aproveitá-las, é isso que a sociedade nos ensina. Mas não, diz o bastonário da ordem que aquilo é falso, baseado em dados falsos, e que não se passa nada daquilo. Mas estamos a brincar???

Ah, e outra foi a do Passos Coelho. Relatava o Expresso que o primeiro-ministro perdeu o seu iPad. Perdeu? Não propriamente: deixou-no na bolsa do assento do avião das linhas aéreas angolanas que o transportou de Lisboa para Luanda, e alguém ficou com ele. Refira-se que a notícia indicava que isto se passou na classe executiva. Sim, este é o mesmo primeiro-ministro que, no dia seguinte à tomada de posse, ia para Bruxelas em classe económica para dar o exemplo. Mas 8 meses depois, já não há classe económica para ninguém, para ir daqui para Angola é melhor não haver misturas com a população geral... É como o outro ministro, que apareceu à tomada de posse de mota e agora anda de Audi... "ah e tal, isto foi uma prenda do governo anterior e agora era mais caro devolvê-lo...". Pois, claro que sim. E o Pai Natal existe e vem descer pela chaminé que não tenho, para me colocar o que falta do subsídio de Natal no sapatinho, não?

terça-feira, dezembro 13, 2011

Sou uma besta, mas se me disseres que sou bestial, eu acredito

Corrijam-me se estiver enganado: normalmente quem procura livros e sessões/workshops/cursos de auto-ajuda são pessoas que, por uma razão ou por outra, precisam que alguém lhes diga que são especiais e que, se quiserem, podem "lá" chegar (seja onde ou o que for esse "lá").
No fundo, livros como "O Segredo" ou muitos dos cursos de motivação, e até muitos dos cursos de gestão (está na moda a PNL...), no fundo transmitem a mensagem de que a melhor pessoa para nos ajudar a melhorar, somos nós próprios, e só temos é que optimizar e dar asas ao nosso potencial. Muitos destes cursos de gestão e auto-motivação não apresentam mais do que transposições imaginativas de regras básicas do bom-senso.

Talvez eu seja negativista, mas isto, a meu ver, não é mais do constatar o óbvio. Ainda não encontrei um livro ou um orador que não me dissesse o que já sei, ainda que de forma mais entusiástica ou divertida. Isto pode levar a pensar que sou contra estas coisas, e no fundo sou contra o básico, e de facto parece-me demasiado básico pagarmos para alguém nos convencer de que somos pessoas fantásticas. Atrevo-me mesmo a dizer que me parece um aproveitamento de um estado emocional um pouco mais fragilizado.

Há uns tempos fui a um workshop destes, de uma das empresas líderes em PNL e "personal building", dada por um jovem bem disposto, que já publicou livros e DVD's. Resumiu-se (repito: é apenas a minha visão deturpada da coisa) a uma descrição colorida daquele texto que começa com qualquer coisa do género "um dia juntaram-se o Talvez, o Nunca, o Quem Sabe, e mais não sei quem...", seguramente quem lê isto já recebeu esse mail. Passado algum tempo, fui a outro seminário, de outra empresa, dado por outro jovem também com livros e DVD's publicados sobre auto-motivação. O dito seminário acabou por ser um chorrilho de casos da assistência, perdendo-se mais tempo em particular com uma senhora que se queixava de que o filho não lhe ligava nenhuma e, segundo ela própria, com razão porque ela estava demasiado absorvida pelo trabalho.

Enfim.


Por outro lado... não me parece mal que, quem necessita de alguém que lhes diga que é um potencial vencedor, pague por ouvir isso. Afinal, as coisas parecem ter sempre mais significado quando é outra pessoa a dizê-las. Se resulta, então muitos parabéns e é seguir em diante. É necessário ouvir e ver o Marcelo Rebelo de Sousa, a um qualquer Domingo à noite, dizer que estamos em crise mas que com esforço podemos ultrapassar isto, algo que todos já sabemos? Não é obrigatório, mas parece que soa melhor vindo dele.

Será isto uma incongruência? Talvez. Deve ser a minha alma de Gémeos a dar de si.

quarta-feira, julho 27, 2011

Chiquita

Ter um animal de estimação, principalmente com o nível de interacção que permite um cão ou um gato, é das melhores coisas do mundo.

Se forem bem tratados, retribuem-nos com um carinho imenso, fazem-nos companhia nos momentos bons e maus, dão-nos ternura sem ser necessário pedir.

A minha Chiquita é um bom exemplo disto. Como qualquer gato, é independente e gosta de fazer as coisas ao seu ritmo. Não gosta de demasiadas festinhas, excepto quando ela própria as pede. Detesta ser pegada ao colo, mas se for por vontade própria, salta-me para o colo a pedir festas, e às vezes fica ali mesmo até adormecer. Não raras vezes acabei por me atrasar para alguma coisa, para não a acordar. É muito mimalha, mas retribui com muito, muito mimo de volta.

Até agora, foram quase 5 anos de uma companhia fabulosa.

E espero que ainda tenha mais algum tempo...

Ontem, após mais uma consulta no veterinário, fui informado que, dos dois rins, ela só tem 1 a funcionar, e a meio gás, por estar atrofiado. Não terá muito mais tempo de vida, disseram-me.

Isto caiu-me como uma bomba. Já sabia que uma gata com Sida Felina poderia não ter um tempo de vida tão longo como um gato normal, mas nunca estamos preparados para a altura em que nos comunicam que o fim estará próximo. Podem ser uns 2 meses, pode ir até 1 ano. Obviamente vou tentar administrar todos os cuidados para que possa aguentar o máximo, mas sempre mantendo a qualidade de vida que tem actualmente, porque não está propriamente mal. Só bebe muito mais que o normal, porque não consegue manter o corpo hidratado.

Enquanto for “só isso”, aguenta-se.

Mas dói. Dói imenso!

Dói estar com ela a pensar que falta pouco. De repente, os actos habituais de escová-la (que ela adora) e de lhe fazer festinhas tornam-se simultaneamente de uma beleza magnífica, mas também de uma tristeza brutal.

A Chiquita está viva, e bem viva. E mesmo que fisicamente deixe de o estar daqui a algum tempo, vai manter-se viva comigo. Para sempre.



PS: Habitualmente, escrever sobre a coisa que me entristece funciona como catarse, alívio da dor. Não foi o caso.

terça-feira, maio 31, 2011

Pernas para que te quero

Não gosto de correr.

Não gosto, pronto!

Mas forço-me a fazê-lo.

A única coisa que gosto no acto de dar uma corrida é chegar ao fim e ter a consciência de que melhorei (eventualmente) a minha resistência, ao conseguir aguentar mais tempo, ou ir mais longe. De resto, correr é uma tortura.

Ainda por cima, corro mal. Tenho um estilo bastante desengonçado. Faz-me lembrar as minhas débeis tentativas de andar de kart, no qual só se vêm pernas a sair do pequeno aparelho com motor de corta-relva. É que, para ajudar, tenho as coxas razoavelmente cheias (para não dizer gordas), o que leva a que embatam uma na outra a cada passada em passo acelerado. Ao final de uns 15 minutos, tenho o interior das coxas em ferida. O que, obviamente, só ajuda a ter um aspecto ainda mais marciano ao tentar correr, enquanto simultaneamente tento evitar que as minhas próprias coxas se toquem em cada passada.

Mas até para correr, que é um desporto gratuíto, é necessário equipamento. Arranjei umas sapatilhas alegadamente próprias para corrida. Utilizo calções normais que já tinha por aí. Comprei uma série de t-shirts específicas para corrida, que permitem mais respiração da pele. Mas faltava-me um pormenor importante, nomeadamente para quem gosta de correr enquanto é dia. Há uns tempos ia a correr no parque da cidade, que geralmente tem pouca gente ao final da tarde de inverno, mesmo que solarenga. Mas de vez em quando lá nos cruzamos com alguém. Calhou, naquele fatídico momento, cruzar-me com uma miuda, no preciso momento em que os óculos que trazia, alegremente comprados na feira de Custóias a um qualquer cigano, se desfazerem precisamente pela haste central. Ou seja, num instante os óculos transformaram-se em dois monócolos, e voou cada um para seu lado, com o impulso da corrida. Obviamente que fiz aquilo que qualquer homem poderia fazer: ri-me da situação como se já estivesse a contar com aquilo, quase como se fosse tudo planeado.

É apenas mais uma razão para não gostar de correr. Não gosto de me cruzar com imensa gente, de andar a desviar-me das pessoas. Mas pelo menos fico confinado ao Parque da Cidade do Porto, não me meto na marginal da Foz. Isso parece uma fogueira das vaidades, 90% das pessoas que vão correr para essa zona fazem-no para encontrar alguém conhecido, fazem-no porque "é bem". Questão de status social. Para isso, não contem comigo. Senão ainda posso desfazer qualquer outra coisa em frente a alguma socialite, e escuso de sair de casa nos próximos 5 anos...

domingo, março 06, 2011

Manif pra quê???

Este ano ainda não tinha deixado aqui nenhum registo para a posteridade.

Não é que não me ocorram pensamentos soltos com alguma frequência, mas daí a lembrar-me deles quando chego a casa e ter pachorra para me sentar ao pc para escrever qualquer coisa de intelegível, vai uma grande distância.

Mas se há coisa que me tem irritado, é esta convocatória para uma grande manifestação social, alegadamente com o propoísito de provocar "a demissão de toda a classe política".

...

Custa-me a acreditar nisto. Tudo bem que, vendo os acontecimentos em África e no médio oriente, seria demasiada ingenuidade não pensar que algum iluminado iria tentar fazer o mesmo aqui na terrinha. Ainda tive esperança que a onda de protestos contra chefes de estado déspotas e eternos pudesse chegar à Madeira, mas não, foi directo para Lisboa.

Habitualmente, não gosto de insultar ninguém, gosto de dar o benefício da dúvida a quem lança uma opinião contrária à minha. Mas a meu ver, os organizadores de uma manifestação como esta não podem ter dois dedos de testa, é burrice a mais. É uma acção que demonstra uma imensa inépcia social, de quem não faz a mínima ideia de como se gere um país.

Senão, vejamos...

"Demissão de toda a classe política"??? E a seguir, acontecia o quê? Havia eleições? As últimas sondagens indicam um empate técnico entre PS e PSD, ou seja, pouca coisa iria mudar, além de um processo eleitoral caríssimo para um país já próximo da bancarrota. Se não fosse essa a ideia, seria colocar "gente idónea e realmente interessada em solucionar os problemas do país" à frente do governo? Hmm... isso soa-me a ditadura...
Ah, não, dizem eles que "Acreditamos que existem políticos, juízes e gestores públicos com honestidade e competência. Exigimos que deixem de omitir e pactuar com o descalabro organizativo do país." Sim, sim, de repente formam todos um partido de salvação nacional, resolvem os problemas criados por 20 anos de subsídio-dependência em três penadas, resolvem os problemas de iliteracia sócio-económica de que padece o português comum, ensinam os empresários portugueses a gerir empresas correctamente e a pensar no lucro a longo prazo em vez do porsche na garagem, e baixam as taxas de juro de um dia para o outro. Ah, e aumentam o salário mínimo para 1500€, já agora, não?

Ainda por cima, tiveram a lucidez extrema de enviar um convite para participar na manifestação a todos os deputados. Ou seja, quase todos os políticos existentes actualmente. Alguém terá enviado ao Passos Coelho? Ou ter-se-hão esquecido que o homem não é deputado por birrice da anterior presidente do partido? Sim, essa que ainda não há muito tempo disse que o melhor era suspender a democracia para impor as reformas necessárias. Mais ou menos o que acontecerá quando o FMI entrar.

Espanta-me que esta gente não se canse do síndroma do "está tudo mal e a culpa é de quem manda". Parece uma cena de futebol, em que se a equipa joga mal, o problema é sempre do treinador. Cansa-me o protesto só porque está na moda protestar. Cansa-me a anosognosia de quem é incapaz de perceber que grande parte dos problemas está em nós próprios.

Querem uma proposta? Eu sugiro uma: exceptuando os profissionais liberais, que tal se todos os trabalhadores por conta d'outrem a quem seja proposto trabalho a recibo verde se recusem a aceitar? Ah, mas aí há sempre um ou outro que precisam de dinheiro e acabam por aceitar. E depois vêm queixar-se para a rua.

E outra: E que tal se os bancos começarem a recusar empréstimos a quem já tiver 70 ou 60% de envididamento? Deixavam de haver tantos carros topo de gama na estrada, mas se calhar deixava de haver tanto crédito mal parado, e o pessoal já tinha dinheiro para medicamentos...