quinta-feira, julho 16, 2015

Não vou pôr isto no Facebook

Não vou postar isto no Facebook.

Hoje em dia põe-se tudo e mais alguma coisa no Facebook. Então nesta altura de verão, o pessoal acha que toda a gente, principalmente os que estão a trabalhar, tem que saber que estão na maior, numa qualquer praia solarenga, que tanto pode ser do Caribe, do Brasil, ou de Lavadores.

Há uns tempos, alguém dizia que fotos desse tipo não são selfies, mas sim "braggies", o que vem do termo inglês "to brag", que basicamente quer dizer "gabar-se". Ou seja, o pessoal gaba-se que está de férias, e como não acredito que alguém pense "vou pôr isto no FB, para que todos os meus amigos fiquem felizes por eu estar a curtir", só posso acreditar que o pessoal põe isso para fazer inveja a toda a gente que vê. Logo, fotos de pernas na praia = é uma braggie. Fotos em frente a um monumento, principalmente quando este é no estrangeiro = é uma braggie.

E depois há aquele pessoal que resolve dizer "Bom dia!" ou "Vou dormir, boa noite!" ao mundo, como se isso tivesse algum interesse. Para não falar de outras coisas, tipo...
"Ah e tal, agora estou a fazer ameijoas à Bolhão Pato"
"Estou a ver a Guerra dos Tronos, e não estou a gostar que o Jon Snow tenha morrido"
"Tomem lá uma música de que gosto muito"
"Estou a obrar, e está-me a custar"

Ok, o último talvez tenha sido um pouco exagerado. Mas pouco deve faltar para o pessoal começar a descrever as suas funções escatológicas, seja no Facebook ou no Twitter.

Não sinto essa necessidade. Não tenho qualquer vontade de causar inveja aos outros. Isso já acontece sem que eu faça muito por isso, quando algum amigo indica que está comigo em alguma festa nocturna. E nessa altura, boa parte das minhas amizades casadas (ou apenas comprometidas) tem o tal pensamento do "este gajo é que está bem". 

Mas hoje, estava eu a acabar uma apresentação em Powerpoint, e ao colocar a data na 1ª página "16-07-2015", ocorreu-me como uma chapada na cara: hoje é dia 16 de Julho. 
Isso não teria nada de mais, se não fosse o aniversário do meu progenitor, que deixou este planeta em 2009, e que muita falta me faz.
Com o efeito da chapada, algumas lágrimas atrevidas chegaram ao parapeito da pálpebra, mas uma inspiradela mais profunda fê-las voltar para o conforto de casa. Faz-me falta, catano, e não é pouca.

Não sendo religioso, fica difícil acreditar que "está lá em cima a olhar cá para baixo". Até porque isso deve causar vertigens. Fica difícil acreditar que continua a olhar por mim, algures. Bom, desde que não o faça quando estou na casa de banho, ou em algum momento íntimo, tudo bem. Fica difícil perceber que não está lá, porque tantas vezes me esqueço, tal era a constância da sua presença.

Mas não vou pôr isso no Facebook. Já o fiz, em anos anteriores, mas já me fartei disso. O pai era meu, a dor é minha. E sei que pouca gente lê este blog, principalmente nesta altura, após uma enorme inactividade.

Mas já sinto aqui um vento a querer sair da minha cavidade retal, fechada a 7 chaves pelo meu valioso esfíncter. Olha, se calhar vou ali pôr isso no Face e já volto...