sexta-feira, julho 24, 2009

O Mau Samaritano

Esta semana, ao chegar a casa, lembrei-me de passar por uma confeitaria aqui perto de casa, para ir comprar uns pães cá pra casa.

Parei o carro mesmo perto da confeitaria Henrique Carvalho, aqui em Matosinhos. Tem uns croissants fantásticos.

Mesmo perto da entrada, estava uma miúda, nos seus 15-16 anos, a tentar arranjar a correia pedaleira da bicicleta. Tinha saído do sítio, e a jovem estava com alguns problemas para recolocá-la.

Indiferente, entrei na loja, comprei um croissant e alguns pães. À saída, ainda lá estava a rapariga. Novamente indiferente à situação, entrei no carro e arranquei. Mas reparei que ela olhou, como quem diz "olha, podias ajudar, não?". Mas achei que a melhor maneira de ela aprender que basta reduzir a velocidade maior para a correia ficar mais solta e ser mais fácil encaixá-la, seria descobri-lo por si só.

Ao arrancar o carro, começo a pensar "que raio... isto não me deixa nada confortável... a miúda deve pensar que sou um estafermo!".

A ideia que tenho é que muito do sentimento de samaritanismo que por aí anda não resulta de uma genuína vontade (e vocação) para ajudar os outros, mas sim de uma necessidade de auto-realização pessoal. Ou seja, sentimo-nos bem porque estamos a ajudar os outros, não por ajudarmos os outros. Não será uma ideia fácil de transmitir, mas o que digo é que muitas vezes, o facto de ajudarmos os outros vem do nosso próprio egocentrismo.

Este caso não foi diferente.

Enquanto ia para casa, ia a pensar que a rapariga deve pensar horrores de mim. Se me vê na passadeira, passa-me por cima. E isso começou a corroer-me as entranhas. Coitada da miúda, ali há uma data de tempo e ninguém a ajuda. Se fosse comigo, eu gostaria que alguém me ajudasse!

Entro na garagem... dirijo-me para o meu lugar e estaciono... Mas fico a pensar... e a pensar... coitada da miuda... fui um bocado idiota... que raio... porque é que não consigo desligar o carro e ir pra casa???

E pronto, quero lá saber. Volto a arrancar, e vou a sair da garagem, decidido a voltar lá e ajudar a jovem.

Claro que a coisa não corre bem... chego à rampa de saída, e quando carrego no comando para abrir o portão, aparece um mercedes para entrar. Raios... Ah, mas ele dispõe-se a recuar para me deixar passar. Porreiro.

Quando este começa a recuar, heis que aparece uma miuda num Cinquecento, também para entrar. Raios!!! Nesta altura já ia eu a meio da rampa, e tive que parar.

É que o meu carro anda com uns problemas no turbo, e em primeira, numa subida íngreme, é um cabo dos trabalhos para conseguir arrancar. Castigo divino, diriam alguns.

Mas lá consegui, e saí da garagem a pedir desculpa aos dois, pela demora...

Dirijo-me novamente à confeitaria. É óbvio que quando lá chego, a miúda já lá não está...

Ao regressar a casa (novamente...), vejo-a a seguir viagem, montada na bicicleta.

"Óptimo", penso eu... "Assim aprende a reparar aquela avaria"...

"... mas vai ficar a pensar que aquele tipo que entrou na confeitaria é uma besta!!!"

Enfim...

3 comentários:

Filipa disse...

É bom saber que ainda existem cavalheiros neste mundo.
Bjinhos e abracinhos

Who? disse...

e ela ainda anda de bibicleta..!!!
espera até tirar a carta!! melhor ainda: imagina se ela envereda pela carreira de motorista de camião TIR... ou motorista da TUB...ou do Metro do Porto!!!!!!!!!!!!!!!
tem medo....muito medo, Andrew!

mas deixa lá...algum bom samaritano a ajudou e se calhar foram os dois comer um croissant "daqueles" acompanhado de um suminho natural e 2 dedos de conversa! às tantas a miúda revelou-se uma autêntica psicopata, começou a perseguir o bom samaritano e ameaçá-lo de morte!

tás a ver do que te safaste?!

abraço,
Monteiro

Andrew disse...

Rapaz, ainda bem que amanhã já estás de férias, porque já se nota que estás a precisar... ;)