sábado, novembro 04, 2006

Vem aí o referendo...

Vem aí mais um referendo sobre o aborto. Mais um.

Só que o problema começa logo aí. O referendo não é sobre "o aborto". É sobre a possibilidade de uma mulher poder fazer uma decisão, que só por si nunca é fácil. É a liberdade de escolher fazer algo com o seu próprio corpo.

Claro que estamos a falar também de uma vida em potencial. Mas se não houver condições para dar a essa criança uma vida minimamente estável e que garanta um processo de crescimento normal, vale a pena? Há quem diga "vale sempre a pena". Que o digam as vítimas de assaltos, violações, assassinatos e afins cometidos por pessoas que "tiveram uma infancia difícil".

Já se viu que sou a favor. Quer dizer, sou contra um aborto, mas sou perfeitamente a favor da liberdade de escolha, porque uma criança indesejada pode estragar várias vidas, não só a da mãe, como a da própria criança, a do pai, dos avós, de todos em redor.

Mas tudo isto é treta. O "Não" vai ganhar de certeza. Isto por várias razões:
- A pergunta é demasiado extensa e confusa, e claramente com um discurso feito e dirigido a políticos. Um cidadão comum, com instrução mais baixa, não percebe patavina do que lá diz, e vai pelo que disse o padre no sermão da eucaristia dominical.
- Somos um país muito católico, e realmente os padres ainda têm muito poder, e podem influenciar a opinião pública com o que dizem nas missas. E a igreja, por razões óbvias, é contra a despenalização da interrupção da gravidez.
- Estamos a falar da despenalização da interrupção da gravidez. Porque ela vai continuar a existir, porque sempre existiu e sempre existirá, mas em condições degradantes e perigosas.
- Os partidos políticos da oposição, como sempre, são incapazes de de juntar ao governo no que quer que seja, por isso levam os seus apoiantes a fazer campanha pelo Não...

E é bom lembrar que estamos a falar da despenalização do aborto até às 10 semanas de gestação. Ou seja, interromper a gravidez aos 2 meses e meio. Muitas mulheres têm abortos espontâneos por essa altura, será que vão ser investigadas para ver se não foi propositado? Algumas nem se apercebem que estão grávidas nessa altura!

Valha-me Deus, nos restantes países europeus, os prazos vão desde as 12 semanas até às 25! E não foram necessários referendos, basta o governo ter essa intenção e promulgar os projectos-lei.

E depois vêm perguntar "e se a mãe do Einstein tivesse feito um aborto? E a mãe do Leonardo Da Vinci? E a mãe do Guttemberg? E a mãe do Mário Soares?"

Epa, com essa última, podia eu bem...

2 comentários:

Anónimo disse...

Um artigo interessante, uma opinião realista. De facto tudo o que se discute é a liberdade de optar e não a permissividade para interrupções de gravidez desmedidas e imponderadas.A realidade é que quem quer fazer um aborto, fa-lo-á com despenalização ou sem despenalização.Compartilho, por isso, de quase tudo que é dito há excepção daquele comentário, um pouco despropositado, sobre a mãe do Soares. Coitada da Senhora, é que na altura não havia opção, nem mesmo de praticar um crime...

Anónimo disse...

So quem passa por uma situação destas, ou tem alguem bem proximo, pode atestar com segurança a terrivel duvida que nos nos fica para sempre na consciencia. Porque a maior parte dos politicos ainda sao homens e esses nunca terao a dimensao real do problema. Ou se tem dinheiro, muito e se faz as coisas com segurança e higiene, ou entao entra-se literalmente em perigo de vida. Isso para não falar na tristeza profunda que fica marcada a ferro e fogo na vida e corpo de uma mulher, principalmente quando já tem um ou outros filhos....