segunda-feira, julho 14, 2008

Tales from the Train

No combóio, é vulgar as pessoas falarem dos seus problemas pessoais em voz alta. Principalmente aqueles que são passageiros frequentes, acabam por sentir uma descontracção natural, e falam do que lhes vem à mioleira.

Isto implica vir na viagem a ouvir falar do Tóne que se largou ontem à noite enquanto a Rosa Peixeira lavava a loiça, ou ver a miúda de 70 kg e 1,60m gabar-se à amiga de como tem 4 ou 5 mancebos atrás dela, e que está indecisa entre o que a pode ajudar a passar de ano com os copianços ou o que lhe proporciona os finais de tarde mais excitantes, naquela zona de arvoredo atrás do pavilhão de educação física.

Todos os dias há um grupo de homens que trabalham ali na zona de São Frutuoso, há ali alguma indústria pesada (incluindo a Siderurgia).

Desse grupo, a maioria já vem sentado na 1ª carruagem, quando entro no combóio, mas há um que entra no mesmo apeadeiro que eu.

Um destes dias, quando esse se senta, dos colegas habituais só estava um, totalmente calvo, que ia com cara de poucos amigos. O meu companheiro de apeadeiro faz a pergunta da praxe: “Entom, tudo benhe?”.

Ao que o outro, em vez da resposta habitual, do tipo “sinhe, aguentei-me este fim de semana e só bebi 35 bejecas”, o homem sai-se com um “mais ou menos... a minha mulher pôs-me as malas à porta de casa...”

É triste... um homem trabalha para por o pão na mesa, e sai-lhe isto na rifa.

Ele continua dizendo que suspeita que ela lhe pôs os cornos com fulaninho de tal, e que estaria pronto para lhe limpar o sebo.

(Nota para os mais eruditos: “limpar o sebo” geralmente implica uma carga de porradinha velha, ou mesmo de acabar com a raça dele)

O colega lá lhe tenta acalmar, depois da interjeição típica “F***-Se!”, e sai-se com um discurso muito apaziguador: “não faça isso, que dá cabo da vida, vai preso e estraga todo o resto da vida”. E claro, tem que dar o seu contributo pessoal “olhe, eu estou separado há 4 anos, e não me tenho dado mal”.

Pouco depois saem, porque entre a paragem onde entro e a de São Frutuoso, não são mais de 5 minutos. Fico sem saber como terá desenvolvido a história.

Uma coisa é certa, no dia seguinte lá estava o homem novemente (o corno).Ou seja, não terá “chegado a roupa ao pêlo” do encornador. Ou se o fez, terá saído com o TIR* à porta, até porque está na moda...


* Termo de Identidade e Residência.

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