segunda-feira, novembro 23, 2009

Money, money

Há uns dias fui assistir a uma sessão sobre "Gestão de Activos".

Foi gentilmente oferecida por uma colega do MBA, o que agradecemos. O propósito era dar a entender como é que uma instituição financeira concretiza a sua gestão de activos dos clientes. Todos tínhamos ficado com a ideia de que a sessão teria como objectivo dar-nos algumas luzes sobre como gerir melhor os nossos fundos/acções/obrigações/etc, mas no fundo era demonstrar como esta instituição trabalha bem.

Só que...

A apresentação, de um alto representante da unidade de Research e Investimento do banco, focou-se, essencialmente, no processo de recrutamento da dita instituição bancária, nomeadamente para aquele departamento. Então diz o senhor que procura jovens entusiastas e que não se importem de trabalhar 10, 12, 15 horas por dia, e que até prefere gente de fora da cidade, que possa ir trabalhar para Lisboa sem ter família ou amigos, para que assim não tenha grandes oportunidades de fazer algo mais do que trabalhar.

Ou seja, escravos.

Gabou-se até de que, naquele preciso momento (seriam umas 18h30 de uma 6ª-Feira), o escritório de Lisboa ainda deveria estar cheio de gente, a trabalhar arduamente.

Isto, para mim, é um tiro no pé. Não com pistola de pressão d'ar, nem mesmo com uma G3, mas com uma caçadeira de canos serrados, daquelas que levam o pé, o joelho, e o que estava à volta na altura.

Então eu por acaso quero gente tipo escrava a trabalhar com o meu dinheiro? Eu quero gente que tem que trabalhar à noite, enquanto o resto da população normal se diverte nos cafés ou jantaradas? Eu quero gente que não tem qualquer perspectiva de vida social a mexer no meu dinheiro?

Duas palavras: Nick Leeson.*

Para dar um exemplo, o homem falou num fundo de investimento gerido pela equipa, que nos últimos 10 anos seria o 2º mais bem-sucedido no mercado nacional. E apresentava uma tabela comparativa com os principais fundos nacionais. Ok, mas o que ele se esqueceu de dizer, e que estava bem claro na tabela apresentada, é que neste ano de 2009, esse fundo era de longe o pior de todos, com uma rentabilidade de 10%, enquanto todos os outros estavam acima dos 40%.

A minha colega que me desculpe a franqueza, mas não quero pessoal ressaviado e com perspectivas nulas de ter uma vida a lidar com os meus poucos trocos. A meu ver, é assim que começa a haver pessoal a tirar algo que não lhe pertence, como alegada compensação pelo tempo de vida perdido...



* - Nick Leeson era o tipo que estava colocado em Singapura, pelo Banco Barings, que levou esse banco à falência. E esse gozava a vida, até demasiado bem. O que faria se fosse um proscrito ressaviado que passava a vida inteira no seu cubículo à procura de investimentos...

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu n trabalho num banco, mas sabes k me tem passado muitas vezes pela cabeça k o futuro será esse? hora certa para entrar mas sem hora de saída e digo isto pk acontece comigo na minha empresa,bjos

Anónimo disse...

Olá Sr Pinheiro, conheço o Sr Nick Leeson pois conheço... Folgo em saber que no MBA ainda usam o caso Barings. Daqui a uns aninhos qd em conversa de café alguém disser "Sabem por quantas marcas somos abordados num percurso desde o castelo do queijo até à rotunda da Boavista?" pergunto-lhe: Ei! Tiraste um MBA?? :-)

Gajo do "geladinho" :-)

Tony Madureira disse...

Infelizmente nos dias de hoje começa ser "normal" trabalhar 10,12 horas...

Mas é preciso que nos lembremos que existe vida para além do trabalho.