segunda-feira, maio 17, 2010

Casamento gay: salvação para a crise???

E pronto, o Papa já foi embora, já podemos aprovar a lei do casamento homossexual. O presidente promulgou-a hoje, apesar de contrariado.

Apesar de não gostar do homem, e da sua forma de governar, gostei do discurso. É óbvio que isto é um fait-divers enquanto o país se afunda, é óbvio que há coisas muito mais importantes a discutir. É óbvio que se ele não concorda, não adiantaria muito rejeitar a coisa, iria passar à 2ª no parlamento, com a preciosa colaboração do PCP e Bloco de Esquerda. É curioso serem estes partidos tão ferverosos adeptos da homossexualidade. Oops, da união oficializada de pessoas do mesmo sexo, entenda-se... O que diria Trotsky, se pudesse estar agora frente a frente com o Louçã?

Não partilho da mesma opinião do presidente, quero lá saber se os gays se casam ou não. Já não penso assim quanto à adopção, mas isso são outras histórias. Por isso espero que isto faça crescer ainda mais a indústria de casamentos, que tem decrescido um pouco nos últimos anos, volte a florescer. Flower power, baby!

Mas agora, seguramente, a Moody's, a Fitch e a Standard & Poor's vão subir o rating de Portugal uns 2 ou 3 Pontos, vamos voltar a ser AAA num instante! Afinal, os USA ainda mantêm um rating elevado, e vejamos:
- Março 2010: Ray Ashburn, Senador pela Califórnia, activista anti-gays, é apanhado a sair de um bar gay, bêbado e com um rapaz gay no carro; (1)
- Agosto 2007: Larry Craig, um outro senador (Idaho), verdadeiro "macho", ou não fosse vice-presidente da NRA (associação de armas americana, a tal que insiste no direito de toda a gente usar armas em toda a parte), é preso por conduta imoral numa casa de banho pública, com um rapaz a afinfar-lhe o traseiro (justificou-se em tribunal dizendo que, na altura, estava a apanhar um papel que tinha caído ao chão...); (2)
- Janeiro 2009: O pastor evangélico Ted Haggart, líder de uma igreja com 14.000 fieis, admite já ter tido mais que uma relação homossexual. Ajoelhou, vai ter que rezar... (consta-se que não era bem isto que dizia aos seus acompanhantes); (3)
- Agosto 2004: Jim McGreevy, governador de New Jersey, admite ser gay e ter tido uma relação extra-conjugal com o conselheiro para a segurança. (4)
- Maio 2010: George Reeker, um auto-intitulado paladino contra os gays, e activista pela causa hetero, é apanhado numa viagem ao estrangeiro de 10 dias com um prostituto, contratado no site rentboy.com... (5)

Enfim, para quando um Jerónimo de Sousa a sair do armário? Ou quiçá até um Carlos Queirós admitir que dá conselhos sobre a cor de cabelo com que pintar o Fernando Ruas? E porque não uma Manuela Ferreira Leite apanhada a esticar a perna debaixo da mesa para chegar ao ponto sensível de uma Odete Santos??? É para o bem da pátria!!!

E para que não digam que inventei, aqui ficam as fontes:
1 - http://www.bvblackspin.com/2010/03/05/anti-gay-politician-roy-ashburn-catches-dui-leaving-gay-club/
2 - http://en.wikipedia.org/wiki/Larry_Craig#2007_arrest_and_consequences
3 - http://www.nydailynews.com/news/national/2009/01/30/2009-01-30_ted_haggard_acknowledges_second_relation.html
4 - http://en.wikipedia.org/wiki/Jim_McGreevy
5 - http://en.wikipedia.org/wiki/George_Reekers ou http://realcelebrity.info/colbert-goes-in-on-anti-gay-politician-caught-with-%e2%80%9crentboy-com%e2%80%9d-friend-at-airport-video/

quinta-feira, maio 13, 2010

Kiss Here, Pope!

Mais um dia Papal em Portugal. Hmm... gosto desta sonoridade... "Portugal Papal".

Juntaram-se 500 mil almas em Fátima, com relatos de êxtase para quem via o senhor. Ainda não há um escrutínio de quantos quantos desses terão ficado sem carteira.

Por acaso não vi a chegada do homem a Portugal, mas agora fiquei a pensar... O seu antecessor, o bonzinho João Paulo II, quando chegava a qualquer lado, a primeira coisa que fazia era beijar o chão do aeroporto. Nunca o vi, à saída do país, fazer com que a última coisa a fazer fosse chegar a face ao alcatrão para ver se recebia uma beijoca de volta. Mas aí está uma coisa que nunca fiz: dar uma beijoca no pavimento. Eu diria que deve haver pouca coisa menos higiénica. Ok, lembro-me de algumas, mas tenho que manter este blog um repositório de textos de cariz familiar.

Será que em cada aeroporto havia um local marcado no chão para o Papa beijar? Uma seta a dizer "Please Kiss Here"? Quiçá limpo na véspera? Como seria se por acaso calhasse do homem beijar um local onde repousasse uma vulgar pastilha elástica, como infelizmente se vê tanto pelos passeios deste país? Ou então como seria num dia de 40º à sombra, a chegar a um aeroporto no Kénia e a ficar com a boca cheia de alcatrão derretido!

Mas imagino como se tenha iniciado essa tradição: tal como aqueles que, quando caem numa zona cheia de gente, tentam levantar-se da forma mais harmoniosa possível, como quem indica a quem quiser saber "eu queria fazer isto, foi de propósito!", provavelmente um dia o homem tropeçou no último degrau da escada do avião e foi directo ao alcatrão. Ao levantar-se lá terá dito "err.. sim, eu fiz de propósito...er... fui... beijar o chão, porque... huh... o considero sagrado?", e a partir daí teve que fazer isso sempre que partia em tournée... Só nunca recuperou aqueles 2 dentes que deixou no nível 0.

Já o Bento XVI... de facto não o imagino a dar um linguado ao pavimento quando chega a qualquer lado. Tem mais ar de quem vai fazer uma revista às tropas.

Mas o povo fica feliz... juntando o Papa e Jesus a dizer que já vai ganhar a liga dos campeões, e o país nem repara que nos vão aumentar os impostos de forma drástica, apesar do crescimento económico fantástico de 1% no último trimestre... Nunca fomos tão religiosos!

PS: Antes que receba algum comentário azedo de algum cristão, lembro que estamos num país democrático que pratica a liberdade de expressão, e que os tempos em que se acabava com o programa do Herman José por mexer com figuras sagradas já lá vai há muito... Hoje em dia a censura só aparece se eu começar a comparar o Sócrates à Virgem Maria. Oops! Delete, delete! :)

quarta-feira, maio 12, 2010

O Papa. Sem compromisso.

Numa altura em que o país está parado para abrir caminho para o Papa, pouco mais se passa neste país...

Com tanta discussão sobre redução do défice, gostaria de saber quanto custa a viagem do sumo pontífice. Só a missa no terreiro do paço terá custado cerca de 200 mil euros. Mas o que não se contabiliza são os custos para o país da paragem dos funcionários públicos, autorizados a faltar por tolerância de ponto. Por falar nisso, o que fazer com os funcionários públicos de outras religiões? Será que podem também faltar esta semana? Ou será que poderão tirar um dia de tolerância quando o Richard Gere vier a Portugal? Ou o Dalai Lama???

Eu não sou católico, como tem sido provado em posts ao longo dos anos. Nunca iria ver o Papa, nem que desse autógrafos. Que me perdoem os católicos, mas este Ratzinger tem qualquer coisa de sinistro, tem um ar estranho, cínico, mafioso. Mas não critico quem vá lá vê-lo e sinta nisso uma paz e conforto difíceis de alcançar de outra forma. Talvez até inveje essa capacidade, principalmente nesta altura da minha vida. Mas não é isso que me fará gostar do homem, muito menos acreditar nas doutrinas eclesiásticas.

Mas nesta fase da vida da sociedade portuguesa, tinha piada que a visita do Papa se revelasse um reflexo do estado desta mesma sociedade. Ou seja, o Papa chegar ao fim da missa no Santuário de Fátima no mesmo estado em que a maioria dos peregrinos que lá vão, ou seja: sem carteira. E ao passear no papamovel por Lisboa, ali entre o Terreiro do Paço e a nunciatura, ser vítima de Carjacking, para descobrirem 2 dias depois que o Papamóvel já estaria em Angola, onde cidadãos insuspeitos ofereciam o dobro ou triplo por uma versão em vermelho berrante. Será que neste caso se chamaria Papajacking?

De qualquer forma, para prevenir qualquer acidente com o Papamovel, principalmente se o condutor for português, seria bom se o homem tivesse um seguro como o que me ofereceram ontem. Ligaram para casa, como habitualmente à hora de jantar, para tentarem impingir um seguro. Uma companhia que nunca tinha ouvido falar... Alix, Alisso, qualquer coisa assim. O diálogo foi qualquer coisa como o seguinte:
- Estou a falar com o senhor André Pinheiro?
- Sim...
- Estou a apresentar o novo seguro da Alico, que estamos a introduzir no mercado, sem compromisso. É um seguro de saúde inovador e que lhe dá grandes vantagens em internamentos hospitalares.
- Mas eu já tenho seguro de saúde, estou coberto pela Médis.
- Er... mas sabia que com o nosso seguro, se tiver um acidente de automóvel e ficar hospitalizado, por exemplo, 1 mês, pode ganhar entre 1500 a 2000€, pagos pela Alico?
- Hmm? Está a dizer-me que se eu assinar o vosso seguro, posso ir a seguir espetar-me contra um muro que ainda me pagam por isso??
- Er... pois... não, não é bem assim, temos cláusulas contra as tentativas de suicídio. E há outras condicionantes.
- Espero bem que sim, senão o país arrisca-se a ver aumentada a sinistralidade rodoviária com o vosso seguro!
- Não, pois, não é bem assim, claro que há regras. Mas se quiser, envio-lhe mais informação, tem 2 meses de cobertura gratuitos, e só se não quiser assinar o contrato é que, no final desses dois meses, deve contactar-nos para não avançar mais.
- Huh? Então estão a oferecer-me uma coisa, e se eu NÃO quiser é que tenho que ligar? Não devia ser ao contrário?
- Não, no nosso caso, apenas deve ligar se não quiser usufruir do serviço, para os seus dados (perguntou-me a idade para fazer uma alegada simulação), ficaria apenas por 12€/mês. Posso enviar-lhe a documentação, sem compromisso.
- Mas então estão a oferecer-me um serviço, dizem que é sem compromisso, e se eu não fizer nada ao fim de dois meses fico com o serviço? Então a aceitação agora neste telefonema é um compromisso!!!
- Não, só ao final de dois meses é que pode, se quiser, recusar, e nessa altura cancela-se tudo, sem compromisso.
- E continua a dizer que é sem compromisso? Então se eu tenho que ligar a dizer que NÃO!, caso contrário é formalizado automaticamente, é porque é um compromisso!
- Não, nessa altura basta um telefonema para não se avançar mais, sem perguntas, sem compromisso.

- Olhe... não estou interessado, sem compromisso.

E desliguei. Pareceu-me marosca. Sem compromisso. Gosto de ser descomprometido...

domingo, maio 09, 2010

O regresso... PSD's e TGV's

O último post que aqui deixei tem quase 2 meses. Confesso que não tenho tido grande pachorra para escrever algo, a vida tem altos e baixos.

Mas desde que escrevi, a 11 de Março, várias coisas, potencialmente "life-changing" ocorreram nesta nossa sociedade. Principalmente (digo eu), temos um novo líder do PSD, e atravessamos nova crise financeira, desta vez por causa da Grécia. Vamos por partes:

- Finalmente os militantes do PSD tiveram bom senso, e escolheram um candidato realmente capaz de derrotar o Sócrates numas eleições! É que para além de saber falar, defender-se bem em debates, e ainda assim dizer ao povo aquilo que ele quer ouvir, o Passos Coelho tem algo que os outros candidatos (vá lá, talvez com a excepção do Aguiar Branco) não tinham: bom aspecto!!! Mas alguém, no seu perfeito juízo, gostaria de ver uma Manuela Ferreira Leite como Primeiro-Ministro??? Que raio de imagem iríamos passar lá para fora? Os tempos da Margaret Thatcher já lá vão há muito...
Eu diria que o PS já se tinha apercebido disso há muito, ao preparar uma campanha de marketing para eleger o Sócrates, mas entretanto cometeram o brutal erro de casting de colocar o avô cantigas nas eleições para o parlamento europeu. Na altura a crise estava apenas a começar, e o PSD regozijou-se de ter ganho as eleições porque "os portugueses querem a mudança". Tretas!!! Bem se viu depois, já com a crise em força, que entre a mudança para uma velha carqueja e a continuação do senhor bem arranjadinho, lá se continuou com o Sócrates!

Disparates? Não, de todo. Veja-se o caso relatado no livro "Blink", do Malcom Gladwell, da eleição do William Harding para presidente dos Estados Unidos. Um "opinion-maker" viu-o à porta de um edifício público, a engraxar sapatos, ficou admirado com a sua estampa e imediatamente o viu como potencial presidente, apenas e só pelo aspecto físico (o livro fala dessas primeiras impressões, tantas vezes tão poderosas). Daí à eleição como senador, e depois como presidente, foi apenas uma gestão de carreira: aparecer nos comícios certos, darem-lhe uns discursos adequados e pronto, lá foi eleito. Ainda hoje os analistas dizem que foi um dos piores presidentes de sempre (só tinha aspecto). O PSD levou, durante os últimos 3 ou 4 anos, esta filosofia ao extremo, só que ao contrário. Ficou famoso o comentário de um jornalista inglês ao falar de um cartaz de auto-estrada, da velha senhora, em que exibia o seu ar cadavérico.

Passos Coelho é um pouco melhor do que William Harding. Tem mais do que ar entre as orelhas, mas ainda precisa de ganhar um pouco de estofo. Se as eleições fossem agora, seria muito renhido. Mas se o PS acabar o mandato (como acho que deve ser feito), nas próximas eleições o PSD não terá dificuldades em ganhar. Até porque se hoje estamos de tanga, daqui a 2 anos já estaremos de fio dental, senão mesmo em nú integral...

E a crise, senhores? Também é uma treta, mas de consequências bem mais sérias. Para mim, pelo menos, porque tinha dinheiro empatado em acções, que despencaram por aí abaixo, e agora obviamente não as posso vender, senão perco imenso dinheiro. E tudo por causa de, dizem, uns gregos terem mentido nos orçamentos e agora estarem perto da bancarrota. E o nosso colapso deve-se ao receio de irmos pelo mesmo caminho. Nós? Nah, até vamos fazer TGV's que só terão mais de 20% de ocupação em dias de vulcões activos, e aeroportos no meio do deserto, como dizia o outro, para... para... alguém sabe afinal para que servirá o novo aeroporto??? E isto nem terá nada a ver com todos os orçamentos em que se conseguia cumprir as metas dos 3% de défice com receitas extraordinárias encontradas à última hora, fossem privatizações ou previsões de ganhos. Nah, todos os analistas que dizem que estamos mal estão errados, nós é que percebemos disto, e dizemos que estamos bem. Hmm... ainda esta semana ouvi dizer que "temos que olhar mais para nós próprios", mas também convém que alguém dê o exemplo...

Já agora, para o fantástico TGV, que virá substituir esse grande Sudexpress, versão ocidental europeia do Expresso do Oriente (falta o Poirot, mas seguramente há sempre por lá muito bom homem de bigode disponível para investigar a vida dos outros), convém reparar numa coisa que, tenho a certeza, pouca gente ainda mencionou: o preço dos bilhetes. É que uma viagem Madrid-Barcelona no TGV espanhol fica, na versão mais barata, por 182,30€! Ah pois é... e isto só com 4 paragens, sem aquelas guerrinhas provincianas de autarcas que fazem chantagem para que o dito cujo páre no café da terra, para não capar a oferta turística da terrinha. Oras, 182€ por um bilhete de combóio de alta velocidade, mais ou menos directo (via Saragoça), para uma viagem que de 600km, que em média dura 3h, comparado com um bilhete de avião, com os preços que estes têm hoje em dia, mesmo não falando nas low-costs... custa-me a crer que o TGV em Portugal venha a ter algum sucesso. Comparando com a já mencionada, uma viagem Lisboa-Madrid deverá ficar pelos 200€ (a não ser que os bilhetes sejam comparticipados...) A não ser que o utilizem maioritariamente para transporte de carga, não antevejo grande sucesso comercial ao CRCC (versão portuguesa de TGV: "Combóio Rápido com'ó Car**o"). Mas duvido que o Sócrates utilize o TGV bonito e luxuoso, e que nos custou os olhos da cara, para transportar hortaliças...