segunda-feira, janeiro 07, 2008

Costeleta-sola

Ontem tinha um jantar de aniversário. Tinha sido convidado já há dois dias, mas não tinha dado resposta porque estava (bastante) engripado.

Mas depois de estar dia e meio de molho, senti-me suficientemente capaz de ir a um restaurante e quiçá emborcar algum álcool. Afinal, até dizem que um pouco do belo tinto faz bem nestas alturas.

O rapaz indicou-me o restaurante Pedra Alta de Leça. Oras, apesar de morar perto (embora o coração esteja para sempre no Porto, de residência sou matosinhense...), não me lembrei que havia um Pedra Alta em Leça da Palmeira, e segui directo para o de Lavra.

Quando lá cheguei, já atrasado, como não vi ninguém, liguei para o jovem, que me indicou estar no 2º piso. Perguntei a um empregado, que me disse "aqui nem temos 1º piso, quanto mais um 2º...". Logo percebi que não era aquele, e dirigi-me, o mais depressa possível, para o de Leça, onde estacionar é uma miséria. Um conselho para estacionar: do outro lado da marginal, na entrada do Porto de Leixões.

Bom, quando cheguei, quase todos tinham caipirinhas, os primeiros tinham-nas "normais", os últimos a chegar já só tinham caipirinhas feitas com limão e pouco açúcar. Corria o rumor que a festa de passagem de ano teria causado uma ruptura nos stocks... Rumor não confirmado (oficialmente!). Tive a mesma sorte: "como já não há lima, vai ter que ser com limão". "Não há crise, venha ela", penso eu, pensando que a acidez do limão até ajuda a curar o que resta da gripe. Bem, não era só o limão e o pouco açúcar. A cachaça devia ser água do rio leça misturada com álcool etílico. Muito má.

Quando o homem vem pedir a comida, peço uma costeleta de vitela. "Mal passada", digo eu.

"Ah, aqui fazemos sempre normal"
"Como?"
"Normal, nem bem, nem mal passada, fazemos sempre normal".
"Está bem, mas eu gosto da carne mal passada"
"Mas a costeleta tem que ser sempre um pouco passada"

Eu estava algo incrédulo. O homem não queria aceitar um pedido para a carne vir mal passada, e ainda respondia??? Quando ele já ia de costas, soltei:

"Mas eu até a como crua! Façam-me a carne mal passada!!!"
"Ok, se quer mal passada, trago-lha mal passada!"

Ainda balbuciou algumas palavras inintelegíveis. Fiquei a pensar se ele não estaria a confundir com uma costeleta de porco, que por razões óbvias, tem mesmo que vir mal passada. Mas ainda estava meio aparvalhado com a atitude de resposta.

Quando vem a dita-cuja, e quando a comecei a cortar, a dureza da carne não enganava ninguém. Mesmo antes de olhar para a cor interior do naco, já sabia que estava passadíssima...
Ainda procurei na zona do osso, obrigatoriamente menos passada, mas nem aí...

Apeteceu-me pedir o livro de reclamações. Não bastava a caipirisgoto, ainda me presenteam com esta sola???

Não o fiz, limitei-me a comer o que conseguia, por respeito ao aniversariante. Mas fiquei com a sensação de que o deveria ter feito.

Claro que havia duas possibilidades: ou me davam a possibilidade de não pagar o jantar, ou me davam outra costeleta, de facto mal passada, mas cobertinha por uma finíssima camada desse belo molho de saliva do cozinheiro, empregados, gerente e quiçá mais alguns transeuntes que por ali passassem na altura.

O povo português não tem o hábito de reclamar. Mas é bom que se vá habituando, só assim conseguimos melhorar os serviços, não só em restaurantes, mas em muitos outros lados. E não é a ASAE que me garante que a carne é mal passada...

4 comentários:

Anónimo disse...

Mal atendido no Pedra Alta??? Parece impossível! Gosto imenso desse restaurante, não só pela comida como pelo atendimento...comigo nunca se passou nada parecido(talvez porque nunca pedi costeleta mal passada, talvez porque não gosto de carne mal passada, talvez porque lá nunca comi carne). Para quem é fã de bacalhau aconselho-o vivamente! Humm é de comer e chorar por mais!!!
Como trabalho em hotelaria, tenho a noção de que os portugueses não fazem muito uso do livro de reclamações (no hotel onde trabalho, também não têm motivos para tal:)) mas os consumidores, independentemente da sua nacionalidade, estão cada vez mais exigentes e ainda bem! Mas isso só não basta. É necessário apostar na formação e na área dos serviços tal é uma lacuna. E também dava jeito ter uma máquina para modificar mentalidades... porque servir é uma arte nobre, aliás é a arte mais nobre que conheço... pena que muita gente confunde servução com escravidão!

Ass: Mara

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Andrew disse...

Sim, mal atendido no Pedra Alta, mantenho o que digo, tão cedo não me apanham lá.

É necessário apostar na formação em toda a "indústria" dos serviços, porque são gritantes as limitações do típico colaborador de áreas como a restauração, transportes ou turismo.

Talvez os nova-iorquinos não estejam tão errados. Se o salário-base fosse miserável, e vivessem à base das gorjetas, teriam que ser simpáticos e atenciosos para tentar ganhar o mais possível...

AtuaFenix disse...

Não conheço o restaurante, nem sequer a zona em questão (com mt pena minha, confesso) mas não posso deixar de concordar que é mt típico nosso criticar mas não usar os dispositivos à nossa mão para exigirmos melhor. Continuamos a achar k falar para o lado resulta, ou optamos simplesmente por acreditar k alguém exercerá a nossa cidadania por nós.

Continuo a acreditar k se queremos melhor teremos de lutar nós próprios por melhor. Mas acredito também no q.b.(tudo com peso e medida)...