quarta-feira, janeiro 31, 2007

Ainda o aborto!

Ok, eu prometo que o próximo post é sobre o tuning ou coisa parecida.

Mas hoje uma colega advogada deu-me uma ensaboadela sobre o artigo 142º do Código Penal, o tal que será alterado caso o "SIM" vença no referendo.

Dizia-me ela que este artigo até já prevê um prazo de 24 semanas, e que prevê que caso a mulher não tenha condições para criar a criança (o que se pode reflectir nas condições psicológicas), a lei permite a interrupção da gravidez sem penalização.

Bom, jovem, desafio-te a prová-lo, porque pelo que vi, isso não é assim.

A condição de permissão até às 24 semanas é aqui transcrita (alteração de 1997 ao dito artigo):
"Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma incurável, de
doença grave ou malformação congénita, e for realizada nas primeiras 24 semanas de gravidez,
comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis,
excepcionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a interrupção poderá ser praticada a todo o tempo;"

Pelo que vi, a única zona onde dizem que se pode cometer a IVG será pelas questões psíquicas da mulher.

Convenhamos que isso, em Portugal e não só, demoraria imenso tempo, sendo pouco provável que a decisão fosse tomada em tempo útil.

E dizer que quem pensa fazer um aborto e se arrepende a tempo vive feliz com a criança? Bom, então também é lícito perguntar quantas ex-mães fizeram abortos (clandestinos...) e não acham que foi a melhor solução?

Mas continuo a dizer: Mesmo com o bispo de Viseu ou Leiria, ou lá de onde é o homem, a dizer que vota Sim, o Não vai ganhar. Não tenho dúvidas.

Afinal, estamos num país em que a maior parte da população pensa que "Demagogia" é o título de uma música que a Lara Li cantava há 20 anos, e que "Hipocrisia" é o juramento que os médicos fazem...

14 comentários:

Docente disse...

os defensores do sim tem uma predilecção pelas palavras demagogia e hipocrisia..

seré que é assim tao dificil de perceber que o que está em caua é a liberalização da morte de uma criança, sem qualquer justificação ou atenuante???

"pra que usar metodos anticoncepcionais? temos sexo sem protecção que sempre dá mais pica e depois se for preciso fazes um aborto? inda por cima é comparticipado...só pagas uma ninharia"

Anónimo disse...

Olá André. Já vi que a conversa de ontem serviu para alguma coisa. Mas não esqueças que os motivos psicológicos são muito dificeis de provar em tribunal.

Anónimo disse...

matar uma criança? que criança? com 10 semanas ainda e um pedaço de carne, sem sentimento... falar em "matar uma criança e sem duvida", o melhor refugio para quem não sabe ao certo o que defende. alem disso, a pílula do dia seguinte, então, também e um aborto, que no lugar de ser feito no prazo de duas semanas, e em 72h! qual e a diferença? em 10 semanas ganhou personalidade e vontade de vir cá pra fora? olhem, eu caso soubesse que vinha para Portugal, para o meio de gente hipócrita, preferia ter sido abortado!!!

Andrew disse...

Fica aqui o comment que deixei no blog do colega monge...

Andrew said...
Boas,

Só para responder ao teu comment no meu blog, o qual agradeço, eu falei nas palavras demagogia e hipocrisia porque são exaustivamente utilizadas por apoiantes de ambos os movimentos, não apenas os do sim.

E alguém que me explique qual é a diferença entre liberalização e despenalização??? Liberalizar = tornar livre. Despenalizar = Não penalizar, ou seja, manter livre.

E voltas a falar na morte da criança, quando tu próprio concedes que isso seja permissível em determinadas situações, uma das quais nem sequer é por motivos de saúde...

Jovem, aconselho a leitura deste pdf, até podes desancá-lo, mas dá uma olhadela: http://www.portal.juventudesocialista.org/documentos/argumentario.pdf

Não penso fazer mais posts sobre o aborto, porque já me chateia tudo isto, por isso... até à próxima!

Docente disse...

ou seja a partir das semanas e um dia ja é uma criança?

e quem somos nós para decidir isso?

caro(a) :), imagino que nao seja da area das ciencias da saude, por isso deixe-me esclarecer que a pilula do dia seguinte não é abortiva , se tomada segundo as indicações fornecidas...tem a ver com fisiologia reprodutiva, que vou-me escusar de descrever com promenor aqui

vou retribuir o favor do andrew w postar a resposta ao seu coment:

Caros franz e andrew:

Talvez com esta troca de palavras tenhamos perdido o fio á meada , portanto se resumindo: este referendo tem a ver com a liberalização total do aborto , por qualquer motivo. E nao digo que o meu ponto de vista seja acertado e o vosso nao, mas o que esta aqui em causa são as crenças e valores que cada um têm e atribui ás situações do dia-a-dia.
a meu ver a concepção da crianças deve ser encarada com responsabilidade( termo que os apoiantes do sim teimam em usar ), pois com liberdade bem responsabilidade, porque existe informação, porque existem metodos anticoncepcionais.

caso o aborto tenha de se verificar, deverá ser em circunstâncias muito restritas como as maslformações graves ou casos de perigo de vida, e quem sabe nos casos de violação. se bem que neste ultimo a pilula do dia seguinte poderia ser usada antes de recorrer ao aborto.

Portanto o que o os movimentos do SIM querem é transformar a excepção na regra... esconder-se no facilitismo e fugir a responsabilidade


eu nao posso compactuar com essas situações pois a minha educação e formação vaõ no sentido oposto. a meu ver deveriamos apostar na formação , na saude e no planeamente familiar; não é o caminho mais facil ja sabemos, mas é o que me parece trazer melhores resusltados a longo prazo

como disse nao implica que eu esteja certo e voçes errados, mas tal como voçes vou expor o meu ponto de vista aos outros e vou votar Não de forma Tranquila

Axo que esta citação vêm mm a calhar:

"Todo o conhecimento, toda a lógica são incompletos, por isso o acto de conhecer, envolve invariavelmente, escolha"( Sinnot,1998)

Andrew disse...

As crenças são com cada um. O importante é votar (e não abster-se, porque quem faz isso não pode reclamar do resultado), e discutir as questões num clima civilizado. Isto porque já tenho ouvido falar de pessoas que deixam de se falar por terem opiniões diferentes neste referendo.

Já tinha dito num comentário algures que a pílula do dia seguinte ficou conhecida, nos primeiros tempos de existência, pela pílula abortiva, e daí a referência.

E o que dizer do caso relatado no Público, em que uma senhora paraplégica de 40 anos ficou grávida (com o marido, também paraplégico), e nenhum dos médicos portugueses que consultou a deixou abortar, mesmo sabendo que teria que passar 8 meses na cama com dores intensas? Foi a Badajoz e num dia tratou da questão. Suponho que os defensores do SIM digam todos "hurrah! viva os médicos portugueses, assim é que deve ser!". Eu digo que é mais um exemplo da mentalidade fechada e tacanha do nosso país.

E tens razão, não sou profissional de saúde, sou de engenharia, e como tal, tenho uma visão mais prática e menos teórica das coisas...

Docente disse...

"As crenças são com cada um. O importante é votar (e não abster-se, porque quem faz isso não pode reclamar do resultado), e discutir as questões num clima civilizado. Isto porque já tenho ouvido falar de pessoas que deixam de se falar por terem opiniões diferentes neste referendo"


Ora ca está algo em que ambos concordamos! e ainda bem!

nao soube dessa noticia e se é como tu dizes foi de facto um mau exemplo para o serviço de saude português

ah e nao queis ofender ninguem por nao serem da area da saude, mas axei por bem esclarecer esse pequeno garnde facto da pilula

fica bem
continua apostar
e exerce o teu direito de voto
Cumprimentos

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=myf5ces77PU

Anónimo disse...

pá, desculpem la, mas deixem-se de coisas (o pessoal do NÃO, nao e nada pessoal com o "monge"), a verdadeira questao esta na despenalizaçao, e como tinha dito, e injusto estarmos a decidir pelos outros com este referendo que possivelmente ira mudar a vida de muita gente, ou deixara ficar na mesma. a mulher nao devera padecer por decisoes legitimas como estas. porra, e ela que decide, e nao esses valores de cada um. o que e verdadeiramente importante para ti, podera nao ser para os outros... vivemos num pais onde a liberdade e uma condicao. em debate com amigos, todos chegamos a mesma conclusao: o sim deve vencer porque ninguem e "ninguem" para decidir pelos outros, e o aborto e praticado a muito tempo... o suficiente para nao sermos nos a querer iludir com uma penalizaçao que parece que ate vai acabar com isto. NAO, a continuaçao da penalizaçao NAO vai impedir de a mulher abortar caso seja esse o seu desejo... para que deixa-las ao cuidado de irresponsaveis? francamente, eu nao aceitaria que namorada minha fizesse o aborto... mas nao ficaria contente de saber que caso mudasse de ideias, isso seria uma barreira e alvo de critica por uma mentalidade tao baixa e podre!!! porque nao sei o meu futuro. sabes o teu? a pilula do dia seguinte e um ABORTO. nao e preciso ser da area de ciencias para saber que esse comprimido simplesmente faz com que a mulher deite tudo para fora!!! isso e o que? expliquem-me? sera que o feto, seja de que tamanho for, nao sai tambem? por favor... nao e preciso ser tao experiente como isso. e sim, preciso ser realista!!! a discusao aqui nao tem futuro... nao pelo andrew mas sim pelo monge... porque ainda discute valores que nao possuem fundamento enquadrado com a realidade contemporanea. dizer certo ou errado nao deve resultar apenas das ideologias ou éticas de cada um.... deve resultar sim, da verdadeira situaçao social em que se vive. o que se tenta combater com o voto "NAO" e algo impossivel... sera que nao deu para ver durante estes anos todos? por favor... nao sei com quem falo, mas deve ser uma mentalidade verdadeiramente fechada... nao se trata de querer ser moderno... trata-se de combater problemas sociais... mas pelos vistos, fugir e justificar com "etica" e o ideal sobre um problema social... sendo assim, para que discutir? ta visto, a etica e valores "rupestres" reinam neste pais... o NAO vai ganhar, o pais vai continuar como sempre... a sonhar com uma sociedade ideal.... impossivel... despeço-me... votem... mas pensem... o arrependimento pode bater a porta, e nao e algo que acontece so aos outros...

Anónimo disse...

Este tema, dá mesmo que falar... abre notícias, enche páginas de jornais, promove debates e dá asas a conflitos.

Eu tenho a mesma opinião que tinha à oito anos atrás, mas continuo atordoada com a incapacidade que temos tido para lidar com este tema. E atordoada, porque assistimos a uma repetição de telenovela ou mesmo conversa de café entre amigos, que há oito anos discutiam com os mesmos pressupostos base a temática do IVG. E eu pergunto: o que se fez entretanto?

Se por um lado temos números que baixaram, por outro temos números que subiram… não querendo (des)valorizar uns outros tantos que não foram registados e conseguiram manter-se no silêncio dos médicos/enfermeiras e das mães da difícil decisão… pelo medo de uma acusação que apenas faria mais penosa o sofrimento já vivenciado, SIM porque não me digam que se faz uma interrupção de gravidez de ânimo leve. Uma mulher não o faz.
Não vamos ser hipócritas.

Uns estão preocupados com os impostos, outros dizem que se fosse a despenalização da mulher e não do IVG votavam sim, mas neste caso votam não…. outros são material para programas de comédia onde os trejeitos caricaturais são tão bem apanhados que nos fazem reflectir sobre as (não)opiniões de supostos senhores da política… mas quem é que querem confundir?

A pergunta que vai ser colocada em referendo no dia 11 de Fevereiro que diz: “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
À qual apenas temos que assinalar Sim ou Não, de acordo com o nosso dever de cidadania/o nosso voto com consciência, tendo presente a ideia de coexistência com a liberdade do outro.
Mas será que sabemos o que isso é, a liberdade do outro???
Espero sinceramente que sim.

Docente disse...

Caro franz:

eu tb nao sei com quem falo..por isso tamos quites, mas posso dizer-te que a tua estratégia de insulto nao resulta comigo ate porque ja decidi mt bem e conscientemente como vou votar

em primeiro lugar trata-se de um referendo, ou seja uma consulta popular, em que cada cidadão exprime a sua opinião...e eu portanto exprimirei a minha através do voto no Não.

Todos temos valores...sejam eles "rupestres" ou não. são os valores que nos guiam nas nossas decisões desde as mais simples às mais complexas, são resultado da nossa educação e das nossas experiências de vida

os partidarios do SIm defendem que a mulher nao deve ser presa por fazer um aborto mas na verdade se a lei avançar, todas as que abortarem depois das dez semanas continuaram a sofrer punição judicial ( e convém lembrar que nenhuma mulher está presa em portugal por ter feito um aborto)

o aborto clandestino existe, é um problema social grave,e embora liberalizar o aborto seja a solução mais facil, não implica que seja a mais correcta. ou será que a sociedade do Sec XXI, só tem o aborto a oferecer a uma gravida com problemas? nao me parece que essa medida vá "combater problemas sociais" ate porque nao estariamos a actuar sobre a causa...mas segundo o ponto de vista dos partidarios do SIM, os casais continuariam, em muito ignorantes( falo claro da educação para a saude) mas ao menos podia-se fazer abortos....

é uma lógica que a mim nao me convence, porque quando se aborta tamos a eliminar uma vida, um ser humano irrepetivel

penso igualmente que com a liberalização do aborto, este se banalize,e seja visto como um metodo anticoncepcional normal...tal como aconteceu com a pilula do dia seguinte

para finalizar , quero só esclarecer que a pilula do dia seguinte SE TOMADA NAS CONDIÇÕES INDICADAS, nao é abortiva. isto porque para haver aborto a fecundação ja terá de ter ocorrido.

Anónimo disse...

"penso igualmente que com a liberalização do aborto, este se banalize,e seja visto como um metodo anticoncepcional normal...tal como aconteceu com a pilula do dia seguinte"

Isto realmente faz nervos a um santo!! Parece o jogo do "toma lá, dá cá".

Mas desde quando é que o aborto, ou a IVG se iria tornar ou visto como um método anticoncepcional normal?? Mas estamos onde???? Portugal é um país de mentalidades um bocado fechadas ou meio terceiro mundista, mas não somos barbaros!!!

Acham (Achas "Monge") que alguem, no seu juízo normal ia fazer disso rotina???

Por acaso já te deste, ao menos, ao trabalho de falar com, ou ouvir a opiniao de uma mulher que tivesse de ter passado por essa situação??

Pois....

E se a mulher já tiver outro ou outros filhos e de repente se vir numa situação irremediavelmente tramada em todos os sentidos e tiver de decidir, contra todos os seus principios e sentimentos, nomeadamente o seu instinto maternal, pela IVG?

Quer dizer, seria tudo uma cambada de assassinas e malucas, sem moral e nenhum tipo de escrupulos.

E esqueçe a pilula de dia seguinte de uma vez.....

Uma mulher devidamente informada e volto a dizer, pelo menos, no seu juízinho normal, sabe perfeitamente que não é um metodo anticoncepcional, como pode ter sido banalizada???

Até parece que a unica preocupação da mulher, é nao se ralar em se proteger, engravidar, tomar pilulas com carga hormonal pesada para ter efeitos secundarios terriveis, nao resulta, tao-se a lixar, faz-me um aborto numa parteira qualquer, pondo a vida em risco, de animo leve, até indo jantar fora a seguir para comemorar pk se livrou do problema...

Não, não há medo, problemas de culpa, de consciencia, 99,9% vão sózinhas a sitios manhosos (ou todas têm dinheiro para ir a Espanha?)sofrem dores horriveis, têm de esconder de todos o que fizeram para não serem apontadas, etc etc etc...

Haja um pouco de respeito, ao menos, e menos teorias....

Desculpem lá qualquer coisinha se alguem se sentiu ofendido, mas isto irrita!! :((

Andrew disse...

Nos últimos dias, têm-se visto na TV variadíssimos testemunhos de apoio a uma e outra causa.

Confesso que me causa estranheza ver um dos principais mandatários do movimento "Médicos pelo Não" referir que é um atentado contra a vida, blablabla, e quando o jornalista pergunta pelo julgamento das mulheres que praticam o aborto, a resposta deste esclarecido é tão só "Não sei, isso terá que perguntar ao Ministério Público". Não sr. Dr.! A pergunta do referendo é exactamente essa!!!

E um outro, de um movimento do Não, mas cujo nome agora não me recordo, a dizer que as mulheres que praticam abortos clandestinos não devem ser julgadas como criminosas, mas sim ajudadas. Porras, então para quê votar não???

E continuo a bater no mesmo ponto: Dizem que é criminoso matar uma criança antes de fazer 10 semanas de vida, excepto nos casos já previstos na lei. Ah bom! Então nos 3 casos previstos na lei, as mulheres portuguesas podem ser assassinas à vontade. Será que se todas as mulheres que queiram abortar, alegarem que foram violadas, a coisa resulta melhor?

Outro dia, em conversa com uma colega advogada (que vai votar Não, mas nem por isso deixo de falar com ela...), ela fez notar que o artigo 142 do código penal prevê o perigo para as condições psicológicas da mulher como justificação legalmente aceite para o aborto. Muito bem, e quanto tempo demoraria uma junta médica a decidir da procedência de um pedido desses? Isto porque as mulheres poderiam recorrer a esse subterfúgio para interromper a gravidez não desejada. Mas quando chegassem a uma decisão sobre o caso, já a criança teria idade para ir prá faculdade... isto, claro, se não tivesse sido dada à luz numa casa de banho pública e deixada no caixote de lixo, como tantas vezes acontece...

Anónimo disse...

como se costuma dizer, só não vê quem não quer. e o seu caso meu caro... refugiar sempre no mesmo paleio, que esta mais do que provado que não tem fundamento, apenas porque ainda não descobriste o verdadeiro sentido da questão e continuas a bater na mesma tecla: matar uma criança, vai ser só abortos de animo leve, bla bla bla, e a mulher que se lixe por ter tido azar.... enfim, para que discutir mais?
não vai dar em nada... daria se um dia ultrapassasse esses "tabus" que te prendem. foi um prazer... e desculpem qualquer coisa...